A América Latina está pronta para a Internet das Coisas?

“Visiones del Desarrollo” é uma seção oferecida pelo CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- que analisa os principais temas de desenvolvimento da região. Os artigos contidos nessa seção são publicados simultaneamente nos principais meios de comunicação da América Latina.

16 de fevereiro de 2022

A Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) visa a transformar as dinâmicas sociais e comerciais tal como as conhecemos. É muito provável que ela altere a forma com que nos relacionamos com o mundo, os padrões de consumo, a dinâmica dos negócios e até mesmo como tomamos decisões.

O conceito de IoT está intimamente relacionado à interconexão digital de todos os tipos de objetos e à transferência instantânea de dados entre eles, o que permite que as decisões sejam tomadas em tempo real. Por exemplo, máquinas de produção, lâmpadas, brinquedos, televisores, mesas ou qualquer outra ferramenta ou utensílio que possa ser imaginado estarão conectados à Internet e, de uma forma ou de outra, poderão ser administrados remotamente, bem como os dados que eles fornecem.

Essa realidade oferece uma ampla gama de possibilidades – muitas delas ainda reservadas à ficção científica –, mas ela também apresenta grandes desafios, especialmente para regiões em desenvolvimento, como a América Latina e o Caribe. De fato, essa revolução tecnológica já ameaça ampliar as lacunas socioeconômicas existentes entre essas regiões e as economias avançadas.

Para que a IoT seja implantada de forma eficiente e massiva, infraestruturas modernas e digitais são necessárias para viabilizar a interconexão dos objetos e a operabilidade das novas realidades que isso permitirá. Por exemplo, para que os carros autônomos operem com segurança, será essencial ter ruas equipadas com sensores interconectados que forneçam informações em tempo real e permitam a tomada de decisões seguras. Também serão necessárias infraestruturas físicas e digitais adaptadas para que os drones possam vagar livremente pelos céus sem sofrer acidentes, e assim depositar os produtos no lugar certo de forma eficiente. No momento, a América Latina está longe desse cenário. A penetração da Internet das Coisas requer infraestruturas sofisticadas em todos os setores e indústrias e, segundo especialistas, para que ela se concretize será necessária uma articulação eficiente entre o setor público e o privado, atraindo ao mesmo tempo grandes investimentos, algo que nem sempre acontece, principalmente nas regiões em desenvolvimento. “Para que a região não fique para trás diante da Internet das Coisas, teremos que fazer uma transição nos nossos rumos para que novos equipamentos e objetos se conectem à Internet, no que é conhecido como IPv6. Paralelamente, será importante que os profissionais latino-americanos sejam capacitados e tenham as habilidades necessárias”, diz Mauricio Agudelo, especialista em TIC do CAF. De acordo com o relatório Implantação de IPv6 para o desenvolvimento socioeconômico na América Latina e no Caribe, a América Latina tem uma implantação de iPv6 muito baixa. Apenas quatro países têm uma porcentagem de usuários potencialmente habilitados para trabalhar em IPv6 superior a 1% (Bolívia, Brasil, Equador e Peru), quadro que deveria ser alterado substancialmente para garantir o desenvolvimento de uma Internet de qualidade. O desenvolvimento e a implementação dessa tecnologia é de interesse do setor privado. A IDC estima que a Internet das Coisas configurará um mercado de 7.100 milhões de dólares e empregará 36 milhões de profissionais, e um estudo da Technavio garante que entre 2017 e 2021 o mercado de IoT cresceu a uma taxa de 32% ao ano. O tamanho desse mercado contrasta com a limitada integração digital na América Latina e no Caribe. Nesse sentido, diversas vozes estão promovendo a criação de um Mercado Digital Regional para a região, que permita a livre circulação de bens, serviços e capitais digitais, uniformize as leis entre os países, gere livre concorrência e proteja o consumidor. Esse mercado também precisará reduzir as barreiras digitais e criar uma área de maior eficiência econômica, onde pessoas e empresas possam comercializar, inovar e interagir legalmente, com segurança e a baixo custo, o que geraria maior competitividade em relação às economias mais avançadas. De acordo com Agudelo, “avançar nessa iniciativa significa superar os problemas relacionados à infraestrutura digital, ao preparo de empresas e pessoas físicas para participar em transações online, às restrições de acesso à internet, e à disponibilidade de conteúdo online. Esses atritos dificultam a exploração de sinergias transfronteiriças que poderiam ser alcançadas através de um marco institucional e regulatório mais uniforme”.

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