A exclusão digital: um desafio e uma oportunidade para a América Latina

O Dia Internacional das Telecomunicações, que se comemora hoje, 17 de maio, encontra a América Latina em uma situação mista: por um lado, nos últimos anos, a região registrou um verdadeiro salto digital, inclusive mais acelerado que em outras regiões emergentes. Mas, por outro, ainda é grande a exclusão que existe em relação às economias mais avançadas.

17 de maio de 2016

Os avanços são evidentes: atualmente, quase todos os habitantes da região têm um telefone celular e, nos últimos 10 anos, o número de usuários de Internet mais do que duplicou. Na verdade, a porcentagem de latino-americanos que usam a Internet passou de 16,6% em 2005 para 53,5% em 2015, segundo o relatório "O ecossistema e a economia digital na América Latina", coeditado pelo CAF -banco de desenvolvimento da América Latina-, CEPAL, CET.LA e Fundação Telefônica.

Mas, enquanto que quase a metade dos latino-americanos já participa do universo digital, essa porcentagem está longe dos níveis registrados nos países desenvolvidos da OCDE, os quais mostram taxas de cerca de 82,2%, indicando uma diferença de mais de 28 pontos.

A isto se acrescenta a heterogeneidade entre os próprios países da região. Enquanto que na Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala o número de usuários da Internet não passa de 30% da população, em sete países -Bolívia, Peru, Paraguai, Equador, México, Panamá e República Dominicana- a cifra não chega a 50%, e apenas seis superam essa porcentagem, com o Chile na liderança, seguido pela Argentina, Uruguai, Venezuela, Colômbia e Brasil, de acordo com a União Internacional de Telecomunicações (UIT).

Por outro lado, a oferta local de produtos e serviços digitais também não aumentou ao mesmo ritmo que o acesso. Dos 10 websites mais importantes da América Latina em termos de tráfego, seis têm sido originalmente desenvolvidos fora da região, embora se deva esclarecer que vários deles oferecem conteúdo local.

Longe de serem desencorajadores, estes dados revelam uma grande oportunidade: a emergente economia digital ainda tem um grande espaço para crescer na América Latina e se consolidar em um processo dinâmico e sustentável de criação de valor. Ainda falta um longo caminho a percorrer até que a metade dos latino-americanos se una a esta transformação.

"Temos diante de nós o desafio de desenvolver uma verdadeira indústria digital latino-americana que nos equipare aos países mais avançados, e também temos a oportunidade de oferecer um acesso universal ao mundo digital que contribua para a igualdade de oportunidades para todos os latino-americanos", explica Mauricio Agudelo, especialista em telecomunicações do CAF.

Segundo o especialista, o desafio da nova Agenda Digital para a América Latina (eLAC2018) faz parte da onipresença da Internet, da convergência tecnológica, das redes de alta velocidade, da economia digital, do governo eletrônico e da análise de macrodados, sem deixar de lado as necessidades ainda não solucionadas no acesso e uso das TIC. Nos próximos anos, a eLAC2018 deverá desenvolver um ecossistema digital que promova uma sociedade baseada no conhecimento, na inclusão e na igualdade, na inovação e na sustentabilidade ambiental.

Uma das principais questões desta agenda é a configuração de um Mercado Único Digital na América Latina com o objetivo de reduzir os obstáculos digitais e criar uma área de maior eficiência econômica onde as pessoas e os negócios possam comercializar, inovar e interagir de forma legal, segura e barata, o que facilitará a vida de todos os intervenientes do mercado.

Estas questões, entre outras, serão abordadas durante o "4º Congresso Latino-Americano de Telecomunicações 2016", que será realizado de 20 a 23 de junho em Cancún, no México, e que contará com a participação de autoridades, executivos e especialistas internacionais do mundo digital.

O encontro, organizado pela UIT, CAF, GSMA, Associação Interamericana de Empresas de Telecomunicações (ASIET) e Secretaria de Comunicações e Transporte do México, é o fórum anual mais importante que se realiza para discutir as políticas públicas de telecomunicações da América Latina.

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