A posição da América Latina em um novo cenário hemisférico e global

Durante o segundo dia da Conferência CAF, especialistas internacionais do mais alto nível, como Francis Fukuyama e Rick Waddell, exploraram as oportunidades geopolíticas e comerciais que surgem para a América Latina em um cenário internacional marcado pelos protecionismos, pela disrupção tecnológica e pelo combate à corrupção

08 de setembro de 2017

"O principal parceiro comercial da América Latina, os Estados Unidos, não está assumindo o papel de liderança econômica e política exercido nos últimos 60 anos. Por outro lado, como atualmente não existe outra potência que possa preencher esse espaço vazio, a única solução para a estabilidade global é que o país volte a ocupar essa posição".   Esta é uma das conclusões a que chegou o professor da Universidade de Stanford, Francis Fukuyama, durante a 21ª Conferência CAF, realizada em Washington D.C. nos dias 6 e 7 de setembro, organizada pelo CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina -, juntamente com o Diálogo Interamericano e a OEA.

Entrevistado por Susan B. Glasser, colunista chefe de Assuntos Internacionais de Politico, Fukuyama também garantiu que há uma série de elementos comuns a todas as regiões do mundo, como a crescente desigualdade, a corrupção, a vulnerabilidade da classe média e a desconfiança das elites políticas que estão configurando um novo processo histórico.

Quanto ao impacto da nova administração norte-americana na América Latina, Rick Waddell, vice-assessor de Segurança Nacional do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, defendeu uma relação entre os Estados Unidos e a América Latina baseada não nos interesses particulares, mas nas frentes comuns que devem ser combatidas, como o tráfico de drogas, o crime organizado e a corrupção.

Afirmou também que é importante que as regras do jogo estejam institucionalmente claras e que sejam mantidas por um longo tempo para que o investimento estrangeiro flua mais em direção à América Latina. "A ideia é que haja regras persistentes e padronizadas", disse Waddell.

Corrupção, transparência e prestação de contas

A conferência abordou as medidas que os governos nacionais podem adotar para combater a corrupção que ameaça boa parte dos países da região, que gera prejuízos estimados em 142 bilhões de dólares, ou 3% do PIB latino-americano.

"Atualmente, há mais corrupção na América Latina, além de ser mais visível. Um fenômeno indesejado do boom das commodities é que existe maior fluxo de dinheiro para a corrupção", afirmou Ana Maria Sanjuán, assessora sênior da Direção de Análise Econômica e Conhecimento do CAF

Melina Castro Montoya Flores, procuradora da República do Brasil, apresentou algumas medidas funcionais que foram implementadas para combater a corrupção, como a eliminação de hierarquias na procuradoria, o que permite agir com independência para realizar as investigações necessárias. "Só as reformas estruturais e sistêmicas nos permitirão alcançar o nível de desenvolvimento que queremos ter", disse Montoya.

Para Laura Alonso, secretária de Ética Pública do Escritório Anticorrupção da Argentina, é possível combater eficazmente a corrupção. "É preciso construir pontes para evitar a corrupção e estabelecer instituições e sistemas de controles eficazes, um vez que este problema é bastante complexo. É como qualquer doença: o melhor é prevenir", afirmou Alonso.  

A nota positiva foi dada por Eduardo Engel, presidente do Conselho Consultivo Presidencial contra Conflitos de Interesses, Tráfico de Influências e Corrupção do Chile, que garantiu que "cada vez há mais procuradorias independentes que fazem seu trabalho eficientemente, e isso está dando seus frutos".

Há 21 anos, o CAF promove este espaço de discussão com líderes de primeiro nível para explorar estratégias que ajudem a promover a transparência, a prestação de contas e o fortalecimento das instituições, com o fim de atingir o desenvolvimento sustentável e a diminuição da pobreza na região

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