CAF enfrenta o desafio de propor melhores políticas públicas para uma América Latina mais produtiva

O desenvolvimento da região nos últimos sessenta anos, medido pelo crescimento da renda per capita, mostrou-se insatisfatório em relação ao do resto do mundo; no entanto, desde os anos 2000, houve avanços na estabilidade macroeconômica e nos indicadores sociais, mas, apesar disso, com a chegada da pandemia da Covid-19, existe o risco de que esses avanços possam ser revertidos e o crescimento de longo prazo seja ainda mais afetado. Por isso, a América Latina precisa definir uma agenda política que permita voltar ao caminho do crescimento com estabilidade e inclusão.

04 de março de 2021

CAF - banco de desenvolvimento da América Latina- apresentou o livro “O Desafio do Desenvolvimento na América Latina: Políticas para uma Região Mais Produtiva, Integrada e Inclusiva", em um evento virtual, no qual representantes não governamentais, especialistas internacionais e formadores de opinião discutiram e abordaram os problemas e desafios enfrentados pela América Latina em termos de recuperação econômica e consolidação fiscal, produtividade, integração, desigualdade e política social, transformação digital e mercados de trabalho, transparência e erradicação da corrupção.

"Ao revisar os números de produção e comércio mundial nos últimos 50 anos, a América Latina parece estar estagnada. No entanto, nas últimas duas décadas, tivemos um desenvolvimento significativo nos indicadores sociais e econômicos. Infelizmente, a pandemia nos fez recuar, e o que é pior, somos a região mais castigada e a que apresenta as piores expectativas de recuperação. Como entender isso, como propor políticas públicas que nos levem de volta para um caminho de crescimento e prosperidade? Este é o objetivo desses diálogos, poder compartilhar com vocês as ideias propostas pelos melhores economistas latino-americanos sobre como abordar as diferentes áreas de atenção que são necessárias para retornarmos a esse caminho de crescimento", disse, no seu discurso de abertura, Luis Carranza Ugarte, presidente-executivo do CAF.

Pablo Sanguinetti, vice-presidente de Conhecimento do CAF - banco de desenvolvimento da América Latina, ressaltou que a apresentação deste livro inclui uma agenda ampla de intervenções que abrangem aspectos da produtividade das empresas, investimentos em infraestrutura, uso de recursos naturais como base para o desenvolvimento, desafios e oportunidades proporcionados pela tecnologia, pela digitalização e pelas suas implicações nos mercados de trabalho, problemas de equidade e política social.

Elaborar e implementar muitas dessas políticas exige não apenas os recursos necessários, mas também as capacidades estatais para implementar essas iniciativas com sucesso. Na visão do Sanguinetti, essas capacidades estatais incluem, entre outros aspectos, regimes de serviço civil que gerem incentivos para o esforço e a formação de funcionários públicos, regras e procedimentos por parte do Estado que estabeleçam um equilíbrio entre controle e autonomia; sistemas que permitam a participação cidadã de tal forma que a burocracia e as autoridades eleitas devam prestar contas e, por sua vez, contar com mecanismos de auditoria e investigações administrativas e judiciais que prevenham e penalizem a corrupção.

A primeira edição dos Diálogos de Desenvolvimento contou com a presença da vice-presidente da Costa Rica, Epsy Campbell, que, durante sua apresentação, afirmou que há um desafio no que diz respeito à prestação tradicional de serviços públicos: "devemos reorganizar protocolos de todos os tipos para conviver com a pandemia, nesse sentido, é onde vemos essa flexibilidade ou falta de flexibilidade de mudança em meio à emergência". E acrescentou que a tecnologia e a digitalização têm sido fundamentais nos países para enfrentar os desafios econômicos e sociais: "a emergência sanitária nos permitiu fazer com que o Estado agisse muito mais rápido para garantir os serviços básicos à população."

Por sua vez, Augusto de la Torre, diretor do Centro de Pesquisa Econômica e Empresarial (CIEE) da Universidade de las Américas, no Equador, e coautor do livro, disse que parte dos problemas enfrentados pela região hoje têm a ver com o período de fechamento da região durante os anos de substituição de importações, que marcaram a orientação produtiva que impediu que a região se globalizasse adequadamente. "Os desafios da América Latina são marcados por essa globalização falha; existem grandes fraquezas que persistem e criam uma lacuna significativa na produtividade da economia regional em relação à fronteira da produtividade global", ressaltou durante sua intervenção de la Torre.

Para Alberto Trejos, reitor da INCAE Business School, "em muitos países, a corrupção levou à criação de controles que não existiam antes; em alguns casos, são realmente necessários para poder combatê-la, mas, em muitos outros, não dão resultados por causa da maneira como foram projetados; e têm sido mais eficazes em complicar a vida dos cidadãos e dificultar as políticas públicas."

Gloria Luz Alejandre, vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Administração Pública do México, afirmou que um dos problemas enfrentados pelo México é a tecnologia, onde o setor educacional é amplamente afetado. Infelizmente, a população não possui uma infraestrutura de sinal de Wi-Fi e dados móveis adequada na região, de tal forma que chegue aos setores mais vulneráveis ou desprotegidos.

Nesse sentido, o governo mexicano lançou programas educacionais por meio de telas de televisão e realizou alguns processos de distribuição de computadores para regiões que podem receber serviços de Internet, embora infelizmente haja outras regiões que estão muito distantes dessa possibilidade.

O Desafio do Desenvolvimento na América Latina” aborda a necessidade de promover o crescimento nos países por meio de questões-chave, como infraestrutura, recursos naturais, integração, capacidades do Estado, revolução digital, políticas sociais e produtividade. A publicação, que conta com a participação de nove especialistas renomados, como Luis Carranza, Augusto de la Torre, Nora Lustig, Patricio Meller e Eduardo Levy, explora iniciativas políticas em cada uma dessas áreas que podem ser muito relevantes no contexto de recuperação pós-pandemia na região.

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