Conferência CAF-LSE: Especialistas pedem reforma do sistema de governança global

O mundo mudou bastante desde a Segunda Guerra Mundial, mas as instituições globais têm como base os princípios que datam do pós-guerra, disse o presidente-executivo do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina-, Enrique García, na Terceira Conferência CAF-LSE

12 de janeiro de 2016

"Quiçá seja o momento de mudar estes princípios e considerar novas iniciativas", declarou Enrique García, presidente-executivo do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina, durante a palestra "Governança Mundial em uma Era de Incerteza", realizada no dia 15 de janeiro, na London School of Economics (LSE).

García afirmou que a região teve uma década muito positiva de crescimento e destacou que os desafios que a América Latina enfrenta hoje são uma oportunidade para levar a cabo as reformas estruturais que foram ignoradas quando as economias estavam em seu ponto alto.

Na abertura da conferência, após as palavras de boas-vindas do diretor da LSE, Craig Calhoun, o titular da Unidade Sul Global da instituição londrinense, Chris Alden, concordou sobre a necessidade de dar uma maior importância para a governança global e aos desafios associados à mesma.

Este conceito também foi enfatizado por Michel Camdessus, ex-diretor do FMI e primeiro palestrante do painel inicial, que também contou com a participação de Celso Amorim, ex-ministro de Relações Exteriores e Defesa do Brasil, e Enrique Iglesias, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

"Frente a este panorama [de incerteza], temos que decidir que tipo de governança executamos", disse Camdessus.

Enrique Iglesias, por sua vez, opinou que os desafios são profundos, mas disse que é otimista e previu que o mundo conseguiria superá-los.

"Estamos presenciando a maior transferência de poder na história da humanidade", disse Iglesias. "Isso já ocorreu na época da Revolução Industrial com a transferência de poder do Oriente para o Ocidente, mas agora estamos vendo a transferência do Leste para o Sul, com o surgimento das economias emergentes da Ásia e do sul do mundo".

Iglesias também lembrou uma conversa que teve com U Thant, então secretário-geral das Nações Unidas, na década de 60, em que Thant advertiu que, no futuro, o mundo enfrentaria um conflito de raças, religiões e nacionalismo.

"Isto é o que nós temos que tomar em conta, o confronto de valores", disse Iglesias.

Amorim, por sua vez, referiu-se às dificuldades que a economia do seu país enfrenta atualmente, e expressou sua preocupação com as reações à mesma.

"Realmente tenho medo do clima psicológico que está sendo gerado, uma crise de causas bem concretas, tangíveis", declarou Amorim.

No debate seguinte, que analisou o papel das instituições financeiras internacionais, Guillermo Perry, ex-ministro de Finanças da Colômbia, destacou a "enorme diferença" que o CAF proporcionou para as economias latino-americanas, em uma época em que o Banco Mundial (BM) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) começaram a reduzir ou suprimir o apoio para projetos de infraestrutura.

Por outro lado, o ex-presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, apresentou uma palestra denominada "Navegar na Incerteza", na qual se referiu à situação global.

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