De onde vem o dinheiro para conter as mudanças climáticas?

11 de novembro de 2021

Mais de 40.000 especialistas internacionais estão reunidos em Glasgow para encontrar soluções a fim de conter o aquecimento global. Os mais otimistas têm esperança de que os acordos permitirão que a temperatura do planeta seja mantida 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais, uma situação que evitaria muitas das piores consequências das mudanças climáticas. Os pessimistas, por outro lado, preveem um aumento de mais de 2 graus até 2050, algo que traria consequências desastrosas e irreversíveis para a sustentabilidade global.

Mas há uma coisa com que tanto os otimistas quanto os pessimistas concordam: qualquer uma das soluções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa passa por financiamento. As medidas de conservação de florestas e pântanos, por exemplo, são impensáveis sem recursos financeiros que aumentam a competitividade das comunidades locais e garantem a manutenção dos espaços naturais. Da mesma forma, para obter energia limpa, são necessários grandes investimentos, por exemplo, em painéis solares, parques eólicos e turbinas eólicas, entre outros.

Globalmente, os investimentos em projetos de energia devem ser dobrados para US$ 5 trilhões até 2030, a fim de enfrentar o desafio de ser neutro em carbono até 2050. Paralelamente, até 2050, precisamos investir US$ 8,1 trilhões para proteger os ecossistemas naturais e a biodiversidade.

As finanças verdes na América Latina atingiram quase US$ 8 bilhões em 2019, mas ainda estamos longe da lacuna de pelo menos US$ 110 bilhões que precisamos para nos adaptar às mudanças climáticas. Para lidar com esses números avassaladores, é essencial adotar novos instrumentos financeiros que, por um lado, garantam o financiamento atual e, por outro, atraiam novos investimentos do setor privado.

Atualmente, os sistemas de produção continuam a depender fortemente de combustíveis fósseis e energias poluentes, por isso tornar-se neutro em carbono parece inconcebível sem uma profunda transformação das indústrias produtivas. Nesse sentido, os bancos multilaterais desempenharão um papel importante na catalisação de fundos e na oferta de segurança que os investidores precisam para fazer grandes desembolsos que consigam mudar paradigmas produtivos.

Segundo afirmou Stephany G. Jones, Diretora de Mercados Financeiros do IPD da Universidade da Columbia, em um dos eventos COP26 de Glasgow, os bancos de desenvolvimento desempenham um papel fundamental na proteção de investimentos, na mitigação dos riscos de financiamento climático e no fomento à inovação.

Nesse aspecto, um dos atores mais dinâmicos é o Clube de Bancos de Desenvolvimento (IDFC, na sigla em inglês), uma organização com 26 membros trabalhando juntos para cumprir o Acordo de Paris, unindo esforços para promover e alavancar o investimento em desenvolvimento sustentável em todo o mundo. Nos últimos seis anos, o IDFC mobilizou mais de 1 trilhão de dólares em financiamento verde.

Uma das tendências mais promissoras para o financiamento climático é o mercado de carbono, em que os países realizam transferências de reduções de emissões voluntariamente ou de forma vinculativa entre eles. Esses mercados ainda não estão regulamentados, e o acordo entre os países da COP26 será essencial para que ele seja reativado.

"Os mercados de carbono são uma grande oportunidade para a América Latina e o Caribe, pois são um sistema eficiente para alcançar as finanças climáticas. Os grandes ecossistemas naturais da região jogam a nosso favor, pois são fundamentais para preservar o equilíbrio climático global", diz Jorge Arbache, vice-presidente do Setor Privado do CAF.

Uma das boas notícias que vieram da COP 26 em Glasgow é o compromisso de vários atores, especialmente os multilaterais, de comprometer seus recursos financeiros. Nesse sentido, o CAF anunciou que nos próximos cinco anos destinará US$ 25 bilhões para financiar operações verdes que ajudem os países da região a cumprir seus compromissos ambientais e climáticos. A agência se estabeleceu para se tornar o banco verde da região e atualmente está credenciada aos principais fundos verdes de financiamento global, como o Fundo de Adaptação, o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e o Fundo Verde para o Clima (GCF).

Uma das primeiras ações da agência foi a contribuição de 1 milhão de dólares para apoiar os esforços de conservação do Corredor Marino del Pacífico Este Tropical, um ecossistema compartilhado por Colômbia, Costa Rica, Equador e Panamá que gera US$ 3 bilhões anualmente derivados principalmente da pesca, turismo e transporte marítimo.

"Com esse ritmo de financiamento, não seremos neutros em carbono até 2030. Precisamos levantar mais capital, e isso só será alcançado com a integração de novos instrumentos financeiros, como o mercado de carbono", diz Arbache.

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