CAF, CEPAL, BID e OPAS promovem equidade e desenvolvimento sustentável
19 de novembro de 2024
Um novo relatório do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- alerta que as instituições financeiras não costumam oferecer produtos adequados às necessidades das mulheres, e que estas registram baixos níveis de educação financeira em comparação aos homens.
07 de março de 2018
Segundo o relatório de inclusão financeira das mulheres na América Latina, desenvolvido pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), apesar das várias iniciativas bem-sucedidas, a maior parte dos países latino-americanos está atrasada em termos de educação financeira e de acesso ao crédito para as mulheres, o que faz com que elas estejam menos capacitadas para poupar, tenham menos acesso a empréstimos e menos possibilidades de desenvolvimento produtivo.
De acordo com a publicação, os estereótipos de gênero, certos padrões socioculturais relacionados à propriedade e à divisão do trabalho, bem como a ausência de informações recorrentes decompostas por sexo por parte de instituições financeiras e governos, fizeram com que as mulheres tivessem acesso limitado ao financiamento e não usassem intensamente os produtos financeiros.
Para reverter esta situação, o relatório recomenda, por um lado, que as instituições financeiras latino-americanas criem produtos que considerem a perspectiva de gênero, fortaleçam as competências das mulheres e promovam o crescimento de seus negócios ou empreendimentos. No que se refere aos governos e bancos centrais, a recomendação gira em torno do estabelecimento de mecanismos de análise e coleta de dados que viabilizem a criação de políticas públicas voltadas à redução das diferenças financeiras entre homens e mulheres.
Neste sentido, as questões pendentes são as seguintes:
“A emancipação econômica e financeira das mulheres é essencial para se alcançar uma igualdade real. Portanto, os governos, os bancos centrais e as instituições financeiras devem adaptar seus produtos e serviços às necessidades das mulheres e promover seus empreendimentos, com critérios de produtividade e rentabilidade”, explica Diana Mejía, especialista em inclusão financeira do CAF e uma das autoras do relatório.
Mejía acredita que, em linhas gerais, as instituições financeiras não estão aproveitando o potencial empresarial e financeiro das mulheres latino-americanas (que representam aproximadamente 50% da população) e que, por meio de produtos e serviços mais bem adaptados às necessidades delas, poderiam melhorar seu próprio desempenho econômico. Apenas as instituições de microfinanças têm as mulheres como um nicho de mercado, embora muitas vezes ofereçam condições menos vantajosas.
De acordo com dados do Banco Mundial, na América Latina e no Caribe apenas 49% das mulheres têm conta bancária, 11% têm conta poupança e 10% dispõem de crédito, percentuais que, para os homens, representam 54%, 16% e 13%, respectivamente. No caso dos países andinos, um estudo do CAF confirmou que os homens têm vantagens sobre as mulheres em termos de conhecimento, comportamento e educação financeira.
Recomendações aos governos da região
O relatório se concentra em três áreas de ação para que os governos e as instituições financeiras consigam oferecer serviços adaptados às necessidades das mulheres: produtos financeiros, educação financeira e indicadores de gênero.
Algumas das medidas de sucesso das instituições financeiras com programas específicos para mulheres são: crédito sem avalista ou garantias intangíveis (joias, membros da família como fiadores, móveis, entre outros); empréstimos a juros mais baixos (por exemplo, no caso de créditos para educação solicitados por mães que são chefe de família); ampliação do período de carência; redução da taxa mínima para a abertura de uma conta poupança; serviços não financeiros (como mini-MBAs, cursos de gestão e planejamento de negócios).
O relatório destaca a importância de se estabelecer estratégias diferenciadas para a educação financeira das mulheres, considerando as características que as diferenciam dos homens. Em geral, as mulheres têm maior aversão ao risco e às perdas, são menos propensas a poupar ativamente e a escolher os produtos financeiros que atendam adequadamente às suas necessidades. Por estas razões, torna-se necessária a criação de programas dedicados a abordar estas diferenças, bem como desenvolver produtos financeiros que levem em conta essas características, que também possam servir como um veículo para transmitir alguns conhecimentos essenciais para melhorar as decisões financeiras das mulheres.
Para gerar as estatísticas ou os dados necessários para a construção do sistema de indicadores, pelo lado da demanda, recomenda-se introduzir uma seção ou um módulo sobre financiamento (acesso, uso e conhecimento) nas pesquisas das famílias e/ou força de trabalho realizadas por instâncias de estatística e censos. O uso das pesquisas de famílias reduz as pressões orçamentárias que envolvem uma nova pesquisa especializada, dado que, para as pesquisas de famílias, as instâncias têm recursos alocados. Isso garante a sustentabilidade das informações no decorrer do tempo e, além disso, facilitaria o cruzamento da variável de financiamento com outras como educação, trabalho, parentesco e liderança da família, assim como aproximações em termos geográficos. Pelo lado da oferta, os indicadores das instituições financeiras em termos de oferta de produtos especializados, aplicações de ações afirmativas e políticas corporativas para a igualdade de gênero darão conta do progresso do sistema financeiro para promover a igualdade de acesso de homens e mulheres ao financiamento.
Casos de sucesso na América Latina
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A Superintendencia de Bancos, uma instituição chilena No que se refere à criação de um sistema de indicadores de gênero baseado no uso dos registros administrativos das instituições, a região pode usar como referência a experiência inovadora desenvolvida pela Superintendencia de Bancos e Instituciones Financieras do Chile. A partir das informações enviadas pelas instituições financeiras e efetuando a sua desagregação por gênero, a instituição publica anualmente o relatório “Gênero no sistema financeiro”, desenvolvendo indicadores de acordo com o sexo em termos de crédito (número de clientes e dívida), poupança (número de clientes e saldo), taxa de inadimplência, taxas de juros, prazos, tipos de crédito, entre outros. |
CRECER – Crédito con Educación Rural, Bolivia Esta instituição microfinanceira tem uma abordagem dupla e integral: serviços financeiros (créditos) e serviços de desenvolvimento (educação) concentrados nas mulheres de zonas rurais. Os serviços financeiros e de desenvolvimento oferecidos têm um foco evidente em gênero, e são destinados a reforçar as potencialidades e o empoderamento das mulheres. Um estudo de 2012 que avaliou o seu impacto procurou medir o grau de empoderamento das beneficiárias e, como resultado, revelou que 49% delas afirmam ter o poder de decisão sobre seus assuntos econômicos (medidor de empoderamento).
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Banco W, Colômbia O Banco W tem uma carteira total de microcrédito na ordem dos US$ 30 milhões, o que corresponde a mais de 200.000 clientes, o que faz dele o quarto banco colombiano em termos de carteira de microcrédito. A filosofia do foco nas mulheres tem como objetivo original beneficiar diretamente as famílias por meio das mulheres que são chefes de família. No entanto, com a evolução da instituição, o público foi ampliado e agora também inclui a população masculina. Mesmo assim, as mulheres representam 62% da sua carteira de ativa. Além disso, o banco também move as ações de inclusão financeira de gênero para suas operações: em algumas das suas agências, instalou salas de lactação para que suas funcionárias possam ter um espaço confortável e higiênico dedicado à amamentação. |
Compartamos Banco de México Este programa consiste na implementação do produto Crédito Mujer, que está sob responsabilidade do Compartamos Banco de México, a maior instituição de microfinanças do país, com aproximadamente 3 milhões de clientes. O objetivo geral desta intervenção é que as mulheres possam criar ou expandir seus negócios e, como resultado, melhorar sua situação econômica. Esta experiência mostra que não é suficiente conceder recursos de crédito às mulheres, porque, se elas não estiverem capacitadas a destiná-los a usos produtivos de alto valor, não poderão superar a armadilha da pobreza na qual permanecem durante o desenvolvimento de atividades que possibilitam a subsistência e a resolução das necessidades urgentes, mas não permitem um salto à formalidade e à produtividade. É aí que a educação financeira deve entrar como complementação.
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19 de novembro de 2024
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