O que é o fenômeno El Niño e como afeta a América Latina

Os especialistas concordam que desde julho de 2015 a América Latina entrou no evento El Niño, e esperam que se prolongue até o primeiro trimestre de 2016. Vários países da região declararam estado de emergência para lidar com os seus efeitos

28 de dezembro de 2015

Durante séculos, os pescadores da costa norte do Peru notaram, perto do Natal, o surgimento águas superficiais relativamente mais quentes do que o normal. Deram a este fenômeno o nome de El Niño, referindo-se à chegada do Menino Jesus.

O fenômeno El Niño e o subsequente denominado La Niña, conhecidos atualmente como El Niño Oscilação Sul (ENOS), são eventos hidrometeorológicos recorrentes que aparecem de forma irregular, mas normalmente ocorrem a cada 2 a 7 anos. O ENSO consiste na interação das águas superficiais do Oceano Pacífico tropical com a atmosfera, afetando os equilíbrios hídricos da superfície até situações extremas. Na sua fase quente se conhece como El Niño e na sua fase fria como La Niña. O El Niño também provoca mudanças nos padrões de vento, pressão e temperatura, e sua intensidade é severa, podendo impactar os cinco continentes.

O setor elétrico da região está exposto aos efeitos deste fenômeno e, consequentemente, compromete o desenvolvimento produtivo dos países. A seguir veremos brevemente os principais riscos para os sistemas elétricos da região na presença do fenômeno El Niño.

O El Niño afeta com seca o Caribe, a Colômbia, o nordeste do Brasil e a Venezuela

O déficit de chuvas dá origem a secas, impactando severamente as bacias hidrográficas. O efeito mais visível que se produz sobre os setores elétricos desses países é que a indisponibilidade de água nos reservatórios afeta gravemente sua capacidade de geração hidroelétrica, a principal fonte de geração na Colômbia, Brasil e Venezuela. Além disso, registram-se altos níveis de erosão e, portanto, a falta de água facilita que a geração de incêndios afete grandes áreas de vegetação, principalmente em lugares onde se localiza a infraestrutura de geração, transmissão e distribuição de energia eléctrica.

Na Colômbia, por exemplo, a costa caribenha tem presenciado durante mais de um ano intensos períodos de seca que não impactou somente o cenário de baixa hidrologia. Nesta situação registram-se aumentos na geração termoelétrica a base de combustíveis fósseis, o que, por sua vez, pressiona as tarifas de eletricidade, chegando até mesmo a ocorrer uma insuficiência na capacidade logística para importar e armazenar combustível suficiente para atender às necessidades elétricas e de mobilidade das pessoas.

O El Niño afeta com inundações o Peru, o sul do Brasil, Paraguai, Uruguai, Equador, Bolívia e Argentina

Ao sul do continente sul-americano o El Niño produz um aumento extremo nas precipitações, causando fortes crescidas dos rios.Por exemplo, o Rio Paraná, um dos maiores da América do Sul, em que existem duas represas de importância primordial, Yacyretá e Itaipu, tem visto seu fluxo médio duplicar em 2015, deixando famílias desabrigadas e populações em estado de alerta.

Estas precipitações representam um risco perante a vulnerabilidade física tanto da infraestrutura da cadeia do serviço elétrico, como das moradias e das rodovias às margens do rio. Além disso, o grau de saturação do solo (capacidade máxima do solo para absorver a água) pode causar deslizamentos de terra, avalanches de lama, choques elétricos, fortes ventanias, queda de postes de distribuição e impacto em subestações, sedimentação de reservatórios e necessidade de alívio de importantes trechos que poderiam gerar impactos às populações próximas e às infraestruturas de geração de energia.

Em geral, pode-se dizer que os riscos dos países que são afetados por inundações durante o curso do evento é a destruição da infraestrutura existente, o que representa uma perda dos investimentos realizados. Esta realidade traz uma preocupação especial quando se considera que o ENSO é um evento recorrente. 

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