“Os bancos com valores são aqueles que apenas emprestam para empresas que respeitam o meio ambiente, a cultura e a sociedade”: Joan Melé

Com uma grande audiência, o especialista em ética bancária Joan Antoni Melé ministrou a palestra "A banca como agente de mudança social", organizada pelo CAF -banco de desenvolvimento da América Latina-, como parte da sua Iniciativa de Inovação Social, em parceria com a Comissão Nacional de Valores e a Fundação Avina na Argentina, e com o Banco Central do Uruguai, a Associação de Bancos Privados do Uruguai, a Fundação AVINA e o Sistema B no Uruguai.

03 de maio de 2016

As instituições financeiras que operam sob um modelo de banca ética têm o potencial de gerar impactos positivos na sociedade através do financiamento que proporcionam para empresas que possuem uma "clara dimensão da responsabilidade humana e ambiental". Essa foi a abordagem central do especialista espanhol Joan Antoni Melé durante sua palestra "A banca como agente de mudança social", que foi realizada no Auditório da Comissão Nacional de Valores da Argentina e, em seguida, no auditório do Banco Central do Uruguai (BCU), em Montevidéu.

Nestes encontros, organizados pelo CAF -Banco de Desenvolvimento da América Latina, como parte da sua Iniciativa de Inovação Social, em parceria com a Comissão Nacional de Valores e a Fundação Avina na Argentina, e com o Banco Central do Uruguai, a Associação de Bancos Privados do Uruguai, a Fundação AVINA e o Sistema B no Uruguai, Melé explicou que "os bancos com valores se diferenciam das entidades financeiras tradicionais pelo apoio que oferecem com créditos concedidos apenas para as empresas que desenvolvem as suas atividades contemplando aspectos sociais, culturais e ambientais".

Ao dar as boas-vindas ao evento no Uruguai, o presidente do BCU, Mario Bergara, referiu-se à ética e aos papéis da Banca Central. "Os bancos centrais têm um papel ético implícito em suas funções básicas, além de ter que executa-los com base em valores adequados como transparência, responsabilidade e eficiência", disse Bergara, que comentou que a ética de uma sociedade é medida pela forma com a que trata os mais vulneráveis, e o descontrole inflacionário e as crises financeiras "atacam" os mais vulneráveis. "A função dos bancos centrais é especialmente aliviar a possibilidade de descontroles macroeconômicos e financeiros", destacou Bergara.

Durante a cerimônia de abertura, Gladis Genua, diretora-representante do CAF no Uruguai, expressou a importância que estas questões têm para o CAF em seu objetivo de incentivar o desenvolvimento com um enfoque de sustentabilidade. A este respeito, destacou que a instituição promove, por um lado, a formulação de políticas públicas inclusivas e, por outro, o desenvolvimento de atividades privadas que, apoiadas em valores éticos, contribuem para um mundo mais justo e equitativo. "Trata-se, neste caso, de visibilizar a banca ética e promover um amplo debate para revisar a conduta econômica cotidiana do comércio, da poupança e do consumo para promover alternativas mais solidárias para todos, especialmente para as populações mais necessitadas", afirmou Genua.

No evento realizado na Argentina, Rubén Ramírez, diretor-representante do CAF nesse país, expressou a importância de promover um amplo debate sobre a busca de um sistema econômico que atenda às necessidades dos cidadãos e no qual a banca ética desempenha um papel fundamental ao financiar projetos que tenham um impacto positivo na economia real.

Por sua vez, Melé explicou que a banca com valores deve colocar seu foco em ajudar os seus clientes a utilizar o dinheiro de maneira responsável e se administrar com uma "transparência radical", informando com exatidão para quais companhias e organizações canalizam os fundos dos poupadores, seja através do seu website ou de outros meios.

O especialista compartilhou a sua experiência de como, depois de trabalhar 30 anos na banca tradicional, tornou-se parte do Triodos Bank, o primeiro banco ético na Europa, certificado como Empresa B e que agora promove esta estratégia de crescimento.

Atualmente, Melé é membro do Conselho Consultivo da instituição financeira e também dirige a empresa Oficina da Consciência, cujo propósito é acompanhar empresários, diretores e profissionais em sua jornada de transformação pessoal para promover mudanças sociais positivas a partir dos seus respectivos cargos.

Sobre o Triodos Bank, Melé destacou que sua trajetória demonstra que os bancos éticos são capazes de combinar a geração de rentabilidade econômica, o que os torna sustentáveis ao longo do tempo, de acordo com os seus princípios.

A diretora de Inovação Social do CAF, Ana Mercedes Botero, ressaltou como é que -a partir da sua área- a instituição identifica e promove este tipo de iniciativas para desenvolver soluções sustentáveis ??para os desafios sociais da América Latina. "Conseguir uma evolução no sistema financeiro e empresarial representa um passo importante para redefinir o sucesso nos negócios, assim como na transição para uma economia com base na ética, na sustentabilidade e na inclusão social", explicou Botero.

Neste sentido, Botero destacou o apoio do CAF ao Sistema B para promover Empresas B na América Latina através do seu programa de inovação social. "As Empresas B são empresas que utilizam o poder dos negócios para melhorar a sociedade e o Triodos Bank, como Empresa B, é um exemplo disso", disse a diretora.

Por sua vez, Guillermo Scallan, diretor de inovação da Fundação AVINA, declarou que os novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) exigem -para seu cumprimento- ferramentas financeiras inovadoras e concentradas, que permitam o desenvolvimento de projetos e programas que hoje poucos financiam. "A presença de Melé no país para formar os executivos de uma futura Banca Ética a partir da experiência bem-sucedida do Triodos Bank, é um passo importante no desenvolvimento de uma economia com base no ser humano e na economia mundial", finalizou Scallan.

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