RED 2024: Desenvolvimento sustentável requer transição energética

O Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED) de 2024 foi apresentado, no Brasil, durante o XXIX Congresso Internacional do Centro Latino-Americano de Administração (CLAD), em Brasília.

28 de novembro de 2024

Chuvas e enchentes devastadoras, secas extremas, ondas de temperaturas jamais sentidas, degelo em regiões árticas e aumento do nível do mar, entre outras consequências das mudanças climáticas, estão trazendo efeitos dramáticos para a vida das pessoas e prejuízos enormes para a economia das nações atingidas. O desenvolvimento sustentável mundial chegou a um momento crítico e decisivo sobre o uso excessivo de energia de origem fóssil, principal responsável pelas emissões de gases de efeito estufa, que provocam as mudanças climáticas.

Diante dessa realidade, o Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED) de 2024 apresenta uma proposta de transição energética justa, com foco na perspectiva da América Latina e do Caribe, reconhecendo as realidades particulares de cada país da região e a necessidade de abordar as defasagens históricas do desenvolvimento. Entre as manifestações mais claras dessa defasagem, encontra-se a diferença no PIB per capita em comparação com as nações desenvolvidas, assim como os altos níveis de pobreza e desigualdades sociais.

“Este Relatório mostra a importância de se aumentar significativamente a participação das energias renováveis nas matrizes energéticas regionais e de se fazer a substituição progressiva dos combustíveis fósseis por alternativas mais limpas”, explica a representante do CAF no Brasil, Estefanía Laterza.

O estudo destaca a necessidade de se promover a eficiência energética, transformar processos industriais a partir de práticas mais sustentáveis e de fomentar a mobilidade sustentável como pilares essenciais em relação à demanda energética. Além disso, o documento identifica os desafios macroeconômicos associados à transição energética e as oportunidades de desenvolvimento produtivo que ela oferece à região, aproveitando seus recursos e vantagens naturais.

O que diz o RED 2024

O estudo destaca importantes informações sobre a energia na região da América Latina e Caribe. A seguir, alguns dados sobre a produção energética:

  • A média da eletrificação regional é de 20%, enquanto os 80% restantes são cobertos por combustíveis fósseis. No entanto, a extensa dotação de recursos naturais permite que a região tenha uma matriz elétrica relativamente verde, na qual 57% da geração de eletricidade vem de fontes não combustíveis (em comparação com uma média mundial de 36%).
  • O Brasil é um exemplo de rápida incorporação de Energias Renováveis não Convencionais (ERNC). Em 2023, a matriz elétrica do Brasil era composta por 20% de energia solar e eólica. Em 2019, esse valor era de apenas 10%.
  • O Brasil apresenta grande dinamismo na incorporação da geração distribuída (geração em baixa escala próxima ao ponto de consumo e principalmente a partir de fontes renováveis): em 2021, 90% da geração distribuída da região correspondia ao Brasil. Além disso, o país possui alto potencial hidrelétrico: concentra 54% da capacidade regional e responde por 62% do aumento da capacidade instalada na última década.

Em relação à demanda e emissões de gases, o Relatório aponta que:

  • O setor industrial gera 11% do total de emissões diretas de gases de efeito estufa e 24% das emissões de energia na América Latina e no Caribe.
  • Na indústria, apenas três subsetores respondem por 57% dessas emissões diretas: siderurgia, cimento e química. São indústrias difíceis de descarbonizar, mas essenciais para as economias modernas: o cimento é essencial para a construção; o aço para indústrias, como construção e transporte; e os produtos químicos, para agricultura e indústria de plásticos. O Brasil, assim como México e Peru, tem uma alta participação dessas indústrias pesadas no valor agregado da economia.

Em relação à energia residencial e transportes, o RED revela que:

  • O primeiro desafio da transição na região é substituir o consumo de lenha por fontes de energia mais limpas. Ao contrário de outros países da região, como Chile, Colômbia, México ou Argentina, no Brasil a eletricidade aparece como a principal fonte de consumo de energia residencial. No entanto, há um longo caminho a percorrer na substituição da lenha (fonte que ainda continua a ter uma importância de cerca de 20% na matriz energética dos domicílios brasileiros, principalmente para cozinhar e aquecer).
  • O setor de transportes na América Latina e no Caribe gera 12% das emissões diretas de gases de efeito estufa da região e 25% das emissões de energia.

Apresentação do RED 2024

O evento de apresentação do Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED) - Energias Renovadas: Transição Energética Justa para o Desenvolvimento sustentável foi aberto por Guilherme Cardoso, executivo principal do Escritório de Representação do CAF no Brasil, e contou com a apresentação dos dados do documento feita por Fernando Alvarez, executivo sênior da Diretoria de Pesquisa Socioeconômica do CAF.

Em seguida, houve debate sobre as principais questões apresentadas no Relatório. O painel teve as participações de Edith Paredes, diretora administrativa da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA); Leandro de Oliveira Albuquerque, secretário nacional adjunto de Transição Energética e Planejamento, do Ministério de Minas e Energia (MME); e Glauco Oliveira, pesquisador associado do Departamento de Economia e Política Internacional do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). O encerramento do tema foi feito por Walter Cont, diretor de Investigações Socioeconômicas do CAF.

Assine nossa newsletter