Vale a pena pensar na ideia de um jornalismo regional?

A América Latina é uma audiência que cobra a importância no jornalismo, mas enfrenta um teste como mercado e um desafio na hora de contar suas histórias

14 de setembro de 2016

A América Latina tornou-se o porto de desembarque das empresas jornalísticas que buscam ampliar suas marcas e públicos fora das suas fronteiras tradicionais. O jornal The New York Times abriu uma edição especial em espanhol, voltada para a região. Anteriormente, o jornal El Pais, da Espanha, começou a publicar as edições América e Brasil. Muito mais cedo, a CNN converteu pequenos segmentos de programação para o público hispânico nos Estados Unidos no que hoje é a CNN em Espanhol.

Trata-se de uma busca de audiências na qual também participam os meios de comunicação nacionais e locais. Uma luta para se manter em um ambiente que exige agilidade e inovação como condição de sobrevivência na indústria jornalística.

Estas reflexões foram debatidas na mesa redonda "Os desafios do jornalismo e a história que se constrói na América Latina", que fez parte de uma atividade prévia à XX Conferência Anual CAF, realizada em Washington, D.C., nos dias 7 e 8 de setembro. O objetivo proposto foi inspirar novas reflexões para o trabalho jornalístico latino-americano.

Um jornalismo regional parece uma alternativa para diversificar a audiência e, assim, incentivar os modelos de negócio. A América Latina parece um bom mercado, já que de 1981 até 2010 registrou um aumento na renda dos seus habitantes, segundo indicou um estudo realizado pelo CAF sobre a classe média. A região, de acordo com o estudo, diminuiu a pobreza e aumentou a classe média que, embora vulnerável, tem potencial de consumo. Esta população é a que atualmente vê a chegada dos meios regionais.

Se bem que a América Latina pareça para o jornalismo uma terra de oportunidades em termos de mercado, a definição de uma agenda informativa regional é um grande desafio. Hernando Álvarez, diretor da BBC Mundo, comentou o seguinte sobre este assunto. "Nossa audiência está principalmente nesta região, o que significa um trabalho complexo de identificação de tópicos, enfoques e prioridades dentro de um conjunto de diversidades", disse Álvarez.

É difícil definir os tópicos que sejam igualmente importantes para todos os países. Pode ser que um projeto de informação internacional encontre dificuldades para sobreviver neste contexto. Os participantes da mesa redonda citaram o exemplo do Canal ECO, que tinha uma agenda mais ligada à realidade do México, mesmo quando podia ser visto em pelo menos 11 países através da televisão a cabo e se definia como um noticiário regional. Na América Latina, segundo concluíram os participantes da mesa, não é suficiente um olhar e um único tratamento informativo.

Algumas conjunturas, coincidiram, podem ser relevantes para a maioria dos latino-americanos, mas outras, embora importantes, não recebem a mesma atenção. "Tivemos que nos esforçar para encontrar espaços para a publicação de determinados temas que são fundamentais, mas que registram pouca audiência quando saem à luz", comentou Tamoa Calzadilla, da Unidade de Dados e Pesquisa da Univisión. "No entanto, insistimos neles porque parte do nosso trabalho é cumprir a missão de informar certas coisas que devem ser divulgadas".

Fica aberta a preocupação sobre quais são os modelos informativos que possam atender a América Latina como região e, também, como apresenta-la para outras áreas do mundo onde os conflitos como os da Síria ou dos refugiados do leste europeu podem ser mais chamativos.

O debate, que contou com a participação de editores, repórteres, diretores de meios internacionais e agências de notícias, foi organizado pela Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano -FNPI- e pelo CAF -Banco de Desenvolvimento da América Latina-, com o apoio do Diálogo Interamericano.

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