Policiais em "áreas quentes", uma solução inteligente contra o crime
O patrulhamento de áreas quentes (“hot spots”), que combina elementos de dissuasão e controle com ações de reforço nas comunidades, está conseguindo reduzir as taxas de criminalidade em várias cidades latino-americanas.
Mais policiais ou mais esforço para prevenir o crime? Melhores políticas educacionais ou mais linha dura?
Essas são algumas das perguntas que passam pela cabeça de centenas de especialistas do mundo inteiro quando pensam em como reduzir a insegurança cidadã. E, se pensarmos na América Latina, onde a taxa de homicídios é três vezes maior que a média mundial, as respostas se tornam urgentes.
A boa notícia é que parece que acertamos no alvo, ou pelo menos temos indícios para pensar assim. E esse alvo é o patrulhamento das áreas quentes, um método desenvolvido pela primeira vez nos EUA, que usa ferramentas estatísticas para concentrar o esforço policial onde mais é mais necessário e combina alguns elementos de dissuasão e controle social com ações de reforço nas comunidades.
O ponto de partida é simples: o crime não acontece em qualquer lugar nem o tempo todo. Ao reunir e analisar cuidadosamente as informações necessárias, muitas vezes, constata-se que uma fração muito desproporcional da criminalidade está concentrada em espaços e horários bem reduzidos. Esse é o caso das cidades de Cali, Medellín, Bogotá e Barranquilla, onde, de acordo com um estudo realizado com vários colegas em 2014, verificamos que 50% dos homicídios ocorriam em apenas 7% do território.
Identificar essas áreas quentes permite reorientar os recursos públicos destinados à luta contra o crime -patrulhamento, câmeras de segurança, programas sociais preventivos - priorizando essas áreas. Pode-se pensar que o crime simplesmente se transferiria para outras áreas, mas evidências empíricas indicam que isso só acontece parcialmente, porque as condições que facilitavam a criminalidade nessas zonas não são facilmente replicadas em outras áreas.
Na América Latina, há poucas experiências documentadas sobre o impacto de programas de áreas quentes. Entre as cidades documentadas, estão o município de Sucre de Caracas (que inclui Petare, uma das zonas mais violentas da cidade) e as cidades colombianas de Medellín e Cali.
No município de Sucre, por exemplo, verificamos que 80% dos homicídios ocorriam em apenas 6% do território, como ilustrado no mapa. A partir dessas informações, foram desenhadas estratégias de patrulhamento que priorizaram a presença de policiais nas áreas quentes nos horários de maior incidência de crimes. Os resultados dessa forma de patrulhamento foram positivos e representaram um aprendizado importante para os funcionários do município, que agora percebem a avaliação de impacto rigorosa como uma ferramenta útil para tornar suas políticas mais efetivas.
A Colômbia é outro país onde o impacto do patrulhamento em áreas quentes está sendo documentado, em um esforço conjunto com a Polícia Nacional e a Universidade de los Andes. Em Medellín, foram identificadas 816 áreas quentes, e em 359 delas é realizado um patrulhamento adicional por 15 minutos contínuos, quatro vezes por dia, todos os dias da semana. Como as áreas com patrulhamento adicional foram selecionadas aleatoriamente, qualquer diferença observada nos índices de criminalidade entre as áreas tratadas e as de controle pode ser atribuída ao programa. Embora o estudo ainda esteja sendo implementado, os resultados preliminares já são promissores.
A credibilidade metodológica e o comprometimento dos formuladores de políticas deste programa já motivaram o interesse das autoridades em Cali, que promete se tornar uma referência na América Latina para a tomada de decisões com base na evidência.
A região mais insegura do mundo
O patrulhamento de áreas quentes deve ser acompanhado de ações que reforcem tanto as instituições públicas como os sistemas judiciais e que apostem em proporcionar oportunidades decentes para os grupos sociais mais propensos à criminalidade, especialmente para os jovens.
Esses esforços são particularmente relevantes na América Latina, uma região que registra mais de 30% dos homicídios mundiais (apesar de representar apenas 8% da população). Das 20 cidades mais inseguras do planeta, as 19 primeiras estão na América Latina. E ,se isso não fosse o bastante, só na América Central, 18.000 pessoas morrem todos os anos por causa de crimes.
O problema da insegurança na América Latina é complexo e precisa ser encarado a partir de múltiplas abordagens. Contudo, saber que a ciência e os legisladores estão trabalhando juntos para gerar respostas mais eficientes para a violência significa que estamos indo na direção certa. As experiências de patrulhamento de áreas quentes e seus bons resultados são provas disso.
Este post foi publicado simultaneamente no The Huffington Post