Energias renováveis e eficiência energética para a mobilidade urbana sustentável, um futuro não tão distante
Uma das formas mais intuitivas de definir "eficiência energética" é pela produção de uma quantidade maior de um determinado produto com a mesma unidade de energia. Esse tipo de eficiência é decisivo para o que se conhece dentro do sistema de energia como Curva de Carga, que consiste em balancear dia a dia a energia gerada com a demanda ou as necessidades energéticas dos usuários.
Este artigo foi escrito por Pablo Cisneros e Andrés Alcalá
Uma das alternativas que poderia revolucionar o mercado e melhorar a administração da oferta é o uso de veículos elétricos e, mais concretamente, de suas baterias que, por meio da descarga do excedente de sua energia na rede elétrica em horas de alta demanda, poderiam substituir energias de outras fontes mais poluentes e mais caras. Se acrescentarmos a esta alternativa o rápido desenvolvimento dos últimos anos e a melhoria da competitividade das energias renováveis não convencionais (ERNC), como a eólica ou a solar, obtemos um cenário favorável de sustentabilidade e eficiência que enriquece a oferta dentro da matriz energética dos países e assegura processos mais eficazes, facilidades de controle e maior automação, além dos benefícios relacionados com a qualidade do ar, a redução do ruído e a produtividade.
O desenvolvimento da mobilidade elétrica e o uso crescente desse tipo de veículo, portanto, podem trazer benefícios associados que vão além do setor de transportes que, embora não visem resolver os problemas de congestionamento, se concentram em contribuir para a descarbonização do setor, que atualmente demanda cerca de 70% da energia proveniente de combustíveis fósseis, de acordo com a IAE.
Os veículos e a gestão do sistema elétrico
Está demonstrado que a eficiência energética em veículos de combustão interna atinge um rendimento de apenas 15%. Para rodar uma unidade de distância, perde-se até 85% de toda a energia necessária para mover o veículo.
Isso acontece porque a energia é transformada e evaporada durante a produção do combustível e sua logística: refinamento, transporte, carga e descarga do produto no posto de gasolina, carga no carro. E algo semelhante acontece na combustão no motor do veículo.
Em contrapartida, nos veículos elétricos, ao não existir o processo de combustão e por usarem uma composição da matriz energética com um alto índice de ERNC, o rendimento pode chegar a cifras próximas de 80%. No entanto, não adianta que o veículo seja mais eficiente em termos energéticos se essas economias não puderem ser descarregadas na rede elétrica para gerar benefícios adicionais para o motorista e para o sistema como um todo. Portanto, para armazenar energia que possa ser incorporada à rede por transações diretas entre atores do sistema, está sendo implementada tecnologicamente a carga inteligente (smart charging), que representa um desenvolvimento avançado de padronização, interoperabilidade e realização dessas transações através de plataformas em rede com uma tecnologia chamada DLT (Distributed Ledger Technology) como são os bitcoins ou o blockchain.
A utilização de acumuladores de energia –como os veículos elétricos em uso crescente – seria capaz de nivelar a curva de carga tão desejada em eficiência e em geração de energia elétrica. Desta forma, a disponibilidade de energia barata na parte da manhã pode ser usada para carregar equipamentos que, em um futuro não muito distante, poderiam fornecer energia em horas de alta demanda.
Além dos benefícios da descarbonização, surgem oportunidades em mercados existentes ou novos, entre outros, devido a:
- Aumento da venda de energia sem modificar substancialmente os ativos de rede
- Gestão das vendas em horas em que há disponibilidade e facilidade na infraestrutura
- Maiores oportunidades para os geradores de ERNC
Olhando para o futuro próximo
O conceito de carga inteligente tem um grande potencial de desenvolvimento, tanto para redes e fornecedores de energia como para usuários de veículos elétricos de qualquer tamanho.
O caminho para alcançar uma mobilidade mais sustentável passa, entre outros fatores, pela substituição de tecnologias automotivas convencionais por veículos com baixas emissões ou inexistentes, confiando que é possível superar as barreiras de adoção de tecnologias por meio de um esforço conjunto entre os setores público e privado.
Embora a expectativa seja de um grande impacto no curto prazo, é necessário acompanhar o processo de crescimento da demanda de energia com o crescimento esperado do transporte elétrico, sempre apoiando a otimização da curva de carga elétrica com o transporte elétrico como veículo de armazenagem de energia que, graças às facilidades tecnológicas de registro e verificação de transações na rede, permitirão viabilizar um futuro elétrico inteligente e sustentável que já não parece tão distante.