O Vale de Ica, no Peru, aposta no agronegócio conectado e digital
Ica é o sexto maior departamento em termos de PIB do Peru e a segunda maior região em termos de PIB per capita, devido à exportação de espargos, uvas e abacate.
A região agrupa 15,2% das exportações de produtos agrícolas do país por meio de um corredor logístico de 500 km que conecta as diferentes áreas de cultivo do departamento com o porto e o aeroporto de Callao. Mais de 80% da estrutura empresarial é representada por pequenas e médias empresas dos setores agrícola e logístico. Apesar disso, há desafios importantes pela frente, como melhorar a gestão da água e o uso da terra, reduzir os tempos de transporte e as perdas de produtos no armazenamento e na carga, bem como otimizar os processos de colheita e coleta, mas especialmente otimizar a gestão integrada da cadeia de valor.
Apesar da sua importância econômica, estima-se que a digitalização da cadeia agroexportadora seja relativamente baixa. Apenas 9% das empresas agrícolas utilizam a internet para distribuir seus produtos on-line, enquanto a percentagem de empresas do mesmo setor nos países da União Europeia chega a 13%. No caso do setor logístico e de transportes, os indicadores são ainda mais críticos. Em geral, as empresas têm um nível baixo de adoção de plataformas B2B, e a adoção de novos serviços, como a internet das coisas, a nuvem, a inteligência artificial e o big data estão em um estado ainda muito incipiente. As infraestruturas digitais e as novas tecnologias podem melhorar a produtividade da cadeia produtiva e exportadora no Vale de Ica?
O CAF - banco de desenvolvimento da América Latina -, juntamente com o CEPAL, Asiet, Conselho Ibero-Americano de Competitividade e Produtividade, e com o apoio da Telefónica, tem liderado uma iniciativa regional para o desenvolvimento da internet industrial na América Latina e no Caribe com o objetivo de potencializar a digitalização dos setores econômicos. Em uma primeira fase, com a liderança do Ministério da Produção do Peru, pretendemos melhorar a produtividade do cluster agroindustrial do Vale de Ica e seu corredor logístico, promovendo a adoção e o uso de tecnologias digitais em todos os elos da cadeia de valor.
Com um bom desenvolvimento digital, existem enormes oportunidades para integrar as PME logísticas e agrícolas à cadeia de valor das grandes empresas exportadoras. A inovação e a digitalização do sistema produtivo ajudaria a aumentar a produtividade não só em Ica, mas também em todas as economias da América Latina
Dessa forma, é necessário integrar as PME à indústria digital para facilitar sua integração com as cadeias de valor cada vez mais globais e digitalizadas e evitar o crescimento observado nas lacunas de produtividade. Esse será um fator-chave para o desenvolvimento da indústria 4.0 na América Latina se quiserem melhorar o nível de eficiência das empresas, facilitar a criação de cadeias produtivas e possibilitar novas oportunidades para que essas empresas se juntem às cadeias de valor globais.
Se a produtividade e a competitividade do agronegócio no Vale de Ica dependem da eficiência na gestão dos recursos hídricos, da gestão do solo e da otimização dos processos logísticos, plataformas de integração de processo entre transportadores, alfândegas, sistemas portuários e centros de armazenagem serão fundamentais, bem como sistemas de gestão e verificação da informação por meio do uso de tecnologias como blockchain. As infraestruturas digitais e tecnologias que permitem a indústria 4.0 (ex.: IoT, cloud, Big data, analytics, M2M, blockchain) têm um papel crítico na facilitação de uma verdadeira transformação de toda a cadeia agroexportadora.
No desenvolvimento dessa iniciativa, juntamente com as autoridades públicas do país e as empresas que compõem a cadeia de valor, serão abordadas diferentes iniciativas em torno de fatores críticos, tais como infraestrutura digital, financiamento, política e transferência tecnológica, indústria 4.0, hubs e aceleradores para startups, networking, promoção do desenvolvimento de clusters e centros tecnológicos, educação e formação, políticas de integração de PME em cadeias de valor, regulamentação, crowdfunding, entre outros.
O objetivo final é promover nas empresas o uso de tecnologias digitais que permitam a coleta e o processamento de dados e, com isso, o monitoramento da produção de forma mais flexível e eficiente. As mudanças necessárias não são exclusivamente tecnológicas, também são necessárias mudanças organizacionais, nos modelos de negócio e nos processos operacionais das empresas.
Em suma, a transformação digital nos países latino-americanos passa necessariamente pela promoção da digitalização do sistema produtivo para se prepararem para a quarta revolução industrial e a necessária melhora na produtividade das pequenas e médias empresas. Para isso, a Agenda Digital do CAF apoia o desenvolvimento de estratégias que promovam a disponibilidade de novas tecnologias que revolucionarão a qualidade de vida da população, do emprego, das formas de produção e da relação dos governos.