Uma oportunidade para os produtores da América Latina e do Caribe
O cádmio é um metal pesado que se acumula no corpo e afeta a saúde. Para controlar a quantidade que consumimos, a UE estabeleceu os níveis máximos permitidos para diferentes alimentos. Em janeiro de 2019, um regulamento que especifica os níveis máximos de cádmio nos produtos de cacau e chocolate entrou em vigor, e outros países estão elaborando normas semelhantes.
Os efeitos da regulação do cádmio na América Latina e no Caribe representam um desafio para a manutenção da competitividade do comércio internacional de cacau, que adquire ainda mais importância se considerarmos que os mais de 400 mil produtores do fruto usam, principalmente, métodos tradicionais de cultivo, mas não contam com os recursos necessários para atenuar a contaminação do cádmio com a eficiência e a eficácia que a UE exige.
Essas circunstâncias reforçam a necessidade de desenvolver soluções combinadas, que ofereçam aos produtores de cacau a possibilidade de reagir rapidamente às exigências desta regulamentação e evitar deixar de participar no mercado da UE.
Em comparação com outras regiões produtoras de cacau, como África e Ásia-Pacífico, áreas específicas da América Latina e do Caribe (ALC) são particularmente afetadas pelos níveis preocupantes de cádmio nos grãos de cacau. Há, portanto, a necessidade imediata de identificar e colocar ao alcance dos produtores ferramentas de eficácia comprovada para a mitigação precoce da contaminação do cacau por cádmio.
É nesse contexto que, por meio da Iniciativa Latino-americana de Cacau (ILAC), o CAF e o Bioversity International realizaram um estudo intitulado “O cádmio no cacau da América Latina e do Caribe: análise da pesquisa e possíveis soluções para a mitigação”.
O estudo apresenta o estado da arte da pesquisa sobre as fontes de contaminação de cádmio nos solos, as propriedades do solo que afetam a biodisponibilidade do cádmio, os mecanismos fisiológicos e as diferenças nas variedades na absorção de cádmio pelo cacaueiro, e as consequências dos processos pós-colheita. Também apresenta soluções de mitigação aplicáveis ao cacau em diferentes contextos, que foram investigadas por meio de ensaios realizados por uma equipe de especialistas e pesquisadores especialmente consultados para o estudo.
A análise também inclui informações sobre projetos de pesquisa em andamento, que permitem que as partes interessadas e, em particular, as entidades reguladoras nacionais acompanhem a geração de soluções técnicas e possibilitem a disseminação de protocolos e ferramentas de aplicação prática.
O desafio de atender à norma da UE para o controle de cádmio oferece aos países produtores de cacau a oportunidade de promover ações combinadas para resolver esta e outras questões pendentes e necessárias para o desenvolvimento da cadeia de valor do cacau fino.
Além de superar a questão imediata da regulação dos níveis de cádmio, a agenda pendente para impulsionar o segmento de cacau fino contempla outros aspectos como a homologação da avaliação sensorial do cacau e uma maior influência em aspectos comerciais, por meio de rastreabilidade, certificação e agregação de valor.
O senso de urgência que o cumprimento da norma da UE gerou entre agências estatais, produtores e brokers alimenta a perspectiva de abordar a cadeia de valor do cacau fino a partir de um enfoque regional que associe uma ação combinada em questões estratégicas com a tradicional concorrência entre produtores.