Qual é o papel dos diretores escolares na melhoria da aprendizagem?
Em 2019, o reitor do centro educacional “Nuestra Señora del Pilar”, localizado em Villagarzón, Putumayo, junto da Amazônia colombiana, recebeu o prêmio “Grande Reitor” da Fundação Compartir, uma distinção de prestígio concedida anualmente aos melhores professores e diretores do país.
As conquistas do professor Orlando Ariza mostram como transformou, em apenas oito anos, a instituição “recicladora” de alunos com baixo desempenho escolar que dirigia na escola que hoje ocupa o terceiro lugar em seu departamento no índice de qualidade educacional ISCE.
O trabalho do reitor Ariza e sua equipe confirma o que apontam estudos internacionais: que a liderança das equipes diretoras tem um impacto positivo nos resultados de aprendizagem de crianças e adolescentes e que, por outro lado, quando essa liderança é pobre ou não existe, o efeito pode ser o oposto e dificultar a aprendizagem. A liderança pedagógica dos diretores é o segundo fator mais influente na aprendizagem dos alunos, depois dos professores, podendo explicar até 25% da variação da aprendizagem atribuíveis a variáveis educacionais.
Os resultados recentes dos testes internacionais do PISA mostram que na América Latina um em cada dois jovens não consegue entender o que lê. Hoje sabemos que frequentar a escola não é sinônimo de aprendizagem e que, em contextos socioeconômicos e culturais tão complexos quanto os enfrentados por milhões de famílias latino-americanas, as escolas e estabelecimentos de ensino desempenham um papel de liderança na criação de oportunidades de inclusão e desenvolvimento para crianças e jovens.
Portanto, equipar os diretores escolares com as ferramentas necessárias para exercer sua liderança pedagógica é uma ação fundamental para a transformação da qualidade educacional. Exemplos como o do reitor Ariza devem ser replicados não como casos isolados, mas como parte das políticas educacionais promovidas na região.
As capacidades para definir estratégias que orientem o trabalho escolar e motivem alunos e professores à aprendizagem não se desenvolvem espontaneamente; devem ser promovidas com oportunidades efetivas e sustentadas de desenvolvimento profissional. E, nesse sentido, a América Latina tem muito a fazer.
Cerca de 730 mil diretores escolares atualmente atuam no desenvolvimento da educação básica obrigatória em nossa região em diversos contextos, condições de trabalho e níveis de preparação que afetam diretamente a capacidade dessas equipes de exercer uma liderança bem sucedida. Espera-se que um diretor escolar exerça funções administrativas, mas também - e acima de tudo - de liderança, participe de reuniões curriculares e de ensino, além de interagir com estudantes, professores, famílias e comunidade.
Embora pelo menos em 50% dos países latino-americanos se exija algum tipo de formação anterior para ocupar a direção escolar, não é suficiente e deve ser acompanhada por duas outras ações fundamentais de formação: durante a iniciação profissional, por meio de programas que acompanhem o novo diretor nos primeiros anos de prática profissional, e, ao longo da carreira, com capacitação contínua e atualização permanente.
Uma ação importante para promover o aprimoramento dos processos de desenvolvimento profissional das equipes de direção escolar é tornar visíveis os critérios de identificação das práticas diretivas inovadoras, que podem ser utilizados ao realizar tais intervenções nos âmbitos local, regional ou nacional.
Um relatório recente elaborado pelo CAF "Experiências inovadoras no desenvolvimento profissional de diretores", apresenta uma revisão das características essenciais para a elaboração inovadora do programa de formação de diretores. Em suma, espera que seu conteúdo esteja baseado em padrões, com ênfase na liderança pedagógica, que desenvolva um currículo coerente, considerando experiências de campo e processos metodológicos, que proponha experiências pedagógicas ativas baseadas na aprendizagem de adultos, bem como práticas e experiências sistemáticas de campo. Da mesma forma, sua estrutura deve promover a socialização e a indução profissional, bem como a avaliação contínua dos participantes, e estar voltada para a melhoria e a formação de uma equipe sólida de formadores.
Embora haja pouca informação na América Latina sobre o impacto de programas de capacitação nas práticas de liderança de equipes de direção, o relatório resume as características e resultados de algumas das experiências mais relevantes da região, como dos programas: Guia de diretores novéis do Chile, Reitores Líderes Transformadores da Colômbia, e Escola de Diretores da República Dominicana. Da mesma forma, destacam-se experiências internacionais a partir das quais diferentes aprendizados podem ser retomados, como nos casos da Inglaterra e Cingapura.
Essas revisões confirmam a necessidade de desenvolver e aplicar estruturas e padrões que determinem e orientem a definição de funções e responsabilidades dos diretores e, por esta via, seus processos de formação, seja antes de assumir o cargo (indução) seja durante seu exercício, incluindo, nesses casos, estratégias de acompanhamento como os guias e o coaching.
Experiências como a do reitor Ariza na Colômbia demonstram que a liderança de reitores, diretores e coordenadores escolares é uma peça-chave para promover um clima escolar positivo e motivador de aprendizagem e uma condição para transformar uma cultura institucional focada na geração de oportunidades de desenvolvimento pessoal e social para os alunos e suas famílias.