Enrique Iglesias participa da conferência “O rosto humano do desenvolvimento”
O ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento analisou a evolução histórica da economia e da responsabilidade social
Com o apoio do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUD, o Centro Latino-americano de Economia Humana (CLAEH) e a Fundação Astur organizaram a conferência "O rosto humano do desenvolvimento", que teve como principal palestrante o ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ex-secretário-geral da Secretaria Geral Ibero-Americana, Enrique Iglesias.
Reconhecido por seu compromisso com a igualdade e seu extenso trabalho como líder de organizações internacionais, Iglesias apresentou uma análise sobre a evolução histórica da economia e sua relação com os setores mais desfavorecidos. Tomando como ponto de partida o conceito de caridade, incentivado pelas principais religiões do mundo há milhares de anos, Iglesias refletiu sobre o sentido da solidariedade, que incorporou a responsabilidade social à antiga ideia de amor ao próximo.
Em um mundo consumista, que registra um alto crescimento das classes médias, Iglesias considera necessário apontar para a sociedade civil a fim de evitar que o preço do desenvolvimento seja os setores mais carentes. "Solidariedade é aceitar que no mundo todos nós somos responsáveis por todos", disse Iglesias. "O rosto humano é o compromisso fundamental; os recursos e as ferramentas estão disponíveis, assim que não há razão para não existir um mercado sensível".
O economista Gabriel Oddone, sócio da CPA Ferrere e primeiro palestrante que comentou o discurso de Iglesias, referiu-se à "tensão" existente entre os conceitos de igualdade e crescimento.
"É possível que haja dúvidas de que não seria necessário abrir mão de parte do crescimento para preservar a igualdade", refletiu Oddone, indicando que essa tensão ocorre com mais força nas economias médias, onde a fragmentação é maior. Nos extremos, ao contrário, o aumento do crescimento pode ser percebido de forma positiva, já que os grupos mais ricos se veem beneficiados de forma direta e, os mais pobres, recebem políticas que tendem a melhorar sua situação, o que não ocorre com os setores médios.
Este ponto também foi abordado pelo Dr. Javier Pereira, sociólogo e diretor executivo no Uruguai da Fundação América Solidária. Pereira afirmou que o caminho para superar essa tensão passa pela clara distinção dos papéis que devem ser cumpridos pelo Estado, pelo mercado e pela sociedade civil.
Na mesma linha de pensamento de Iglesias, Pereira afirmou que as "sociedades civis fortes tiram o melhor do Estado", fazendo um chamado para o fortalecimento do papel das organizações não governamentais, buscando a inclusão a partir dos grupos mais estáveis.
"Não podemos pensar em um desenvolvimento inclusivo se não trabalhamos com os setores que já estão integrados", declarou Pereira. "Trata-se de exercer uma mudança de aparência para deixar de ver o outro como uma ameaça", continuou. "Essa é a base para restaurar os vínculos e todos os cidadãos somos corresponsáveis dos que são mais desfavorecidos".
Cristina Lustemberg, subsecretária do Ministério da Saúde Pública, explicou que a solidariedade deve se concentrar na atenção às crianças em sua primeira etapa, já que é aí onde se estabelece a base da desigualdade.
"20% das crianças uruguaias estão abaixo da linha da pobreza, e um quarto das crianças são violentadas em seus lares", disse Lustemberg. "Se não fizermos um acordo social para superar esses problemas, qualquer programa será paliativo", prosseguiu. "O Uruguai não vai avançar se não entendemos que a igualdade mais importante está no momento do início da vida".
Finalmente, o Dr. Romeo Pérez Antón, vice-presidente do CLAEH, insistiu nos papéis do Estado, da sociedade civil e do mercado para proporcionar "um rosto humano para o desenvolvimento".
"Talvez devêssemos voltar ao enfoque qualitativo sem perder o que nos deixaram os enfoques quantitativos da economia", concluiu Pérez Antón.
O encontro terminou com um reconhecimento a Enrique Iglesias pela sua contribuição para o desenvolvimento econômico e social da América Latina, sendo nomeado membro honorário do CLAEH. Iglesias confirmou seu compromisso com as questões sociais e encerrou sua apresentação lembrando o saudoso fundador da instituição, Juan Pablo Terra.