Mujica: a integração entre a América Latina e a Europa não é uma questão comercial, mas política
A conferência continuou na terça-feira com três mesas redondas que contaram com a participação de políticos proeminentes, empresários, acadêmicos e jornalistas de ambos os continentes
A integração entre a América Latina e a Europa é fundamental para equilibrar o peso que a Ásia representa na região, mas não se trata de uma questão comercial, mas sim de vontade política, disse o ex-presidente do Uruguai, José Mujica, nesta terça-feira.
"Acredito que a nossa integração depende muito mais da vontade política que do que o comércio pode fazer espontaneamente", declarou Mujica durante a III Conferência CAF - Sciences Po, que é realizada em Paris a fim de examinar os novos desafios das relações entre a Europa e a América Latina.
O ex-presidente uruguaio afirmou que a Europa parece estar concentrada em seus próprios problemas e que isso dificulta uma aproximação entre as duas regiões. "Espero que esteja errado", disse Mujica em um auditório lotado. "Espero que a Europa chegue a essa conclusão e abra uma porta para compensar as relações que temos com a Ásia".
Mujica disse que a maior parte do comércio exterior latino-americano ocorre atualmente com a China, enquanto que o intercâmbio regional representa apenas 20 por cento do comércio da região.
"Além de uma maior integração regional na América Latina nós precisamos de algo que nos ajude como alternativa, como um peso na balança para evitar a dependência da China", declarou Mujica. "Nesse sentido, a Europa, pela cultura e pela história, é o lugar natural para o qual olhamos".
Ao término da Palestra Magistral do ex-presidente uruguaio foi realizado um debate sobre as tendências da economia mundial e seu impacto na América Latina, que contou com a participação de Enrique Iglesias, ex-secretário-geral ibero-americano e ex-presidente do BID; José Antonio Ocampo, professor da Universidade de Columbia, Nova York, e ex-ministro da Fazenda da Colômbia. O debate foi moderado por Enrique García, presidente-executivo do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina.
García fez a apresentação do tema, recordando que há dois anos, na mesma conferência organizada pelo CAF e pela Sciences Po, a maioria dos expositores estava em um momento de euforia. Foi possível o registro de uma redução da pobreza e um aumento da classe média. "Mas, hoje há um novo cenário", advertiu García.
"Certamente esta é uma mudança de época", coincidiu Enrique Iglesias. "Há uma mudança no paradigma de desenvolvimento, que hoje é dominado pela tecnologia e pela inovação".
Iglesias também considerou que as classes médias estão crescendo globalmente e isso faz um mundo mais complicado porque a cidadania se mobiliza para se expressar e exige qualidade no crescimento.
Mas, os palestrantes advertiram que algumas economias da região poderiam retroceder devido aos ajustes que começaram a executar.
"A queda dos preços dos produtos básicos nos atinge", disse Ocampo. "A questão é quão forte será a queda e quão intenso será o ajuste financeiro".
Para evitar um retrocesso, disseram, é indispensável o aprofundamento da integração regional.
"A integração regional não é um luxo, é uma necessidade", afirmou García.
A conferência continuou na terça-feira com três mesas redondas que contaram com a participação de políticos proeminentes, empresários, acadêmicos e jornalistas de ambos os continentes.
A primeira delas fez um balanço da II Cúpula CELAC-UE e dos novos desafios para o relançamento do inter-regionalismo, enquanto que o tema da segunda foi sobre o papel da Europa e da América Latina frente à cúpula das mudanças climáticas "Paris Climat 2015". Por último, os especialistas debateram sobre o novo ambiente comercial e o impacto sobre as cadeias globais de valor.
Como parte da sua parceria estratégica, a Sciences Po e o CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- organizaram esta conferência conjunta pela terceira vez desde 2011, através do Centro de Pesquisa Internacional (CERI) e da equipe do Observatório Político da América Latina e do Caribe (OPALC).