Marco Aurélio Garcia: “Os projetos de integração supõem que os países saibam que não é suficiente que um ou dois ganhem; tem que ser um processo conjunto, no qual todos ganhem
Marco Aurélio Garcia, assessor de política exterior do governo do Brasil, e Enrique García, presidente-executivo do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- dialogaram no programa "Conversando com o CAF" sobre os desafios apresentados pela integração regional e a importância de unir os esforços neste sentido para se inserir no mundo globalizado de hoje
O assessor especial para Assuntos Internacionais do Brasil, Marco Aurélio Garcia, falou sobre os desafios que a região enfrenta em termos de integração e considerou que qualquer avanço que ocorra em busca desse objetivo deve ser "um processo conjunto" em benefício de todos os países, porque, caso contrário, corre-se o risco de não perdurar com o passar do tempo.
"Os projetos de integração supõem que os países saibam que não é suficiente que um ou dois ganhem; tem que ser um processo conjunto, no qual todos ganhem", afirmou o assessor brasileiro durante uma nova edição da série "Conversando com o CAF", junto com Enrique García, presidente-executivo do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina. "Se um faz uma aposta regional e quer ganhar sozinho, essa aposta não dá certo, dura pouco", acrescentou.
Nas últimas décadas, seja por interesses econômicos, proximidade geográfica ou afinidade ideológica, vários blocos de integração foram criados na região, como Unasul, Celac, Alba ou a Aliança do Pacífico. Marco Aurélio Garcia -que é assessor da presidência do Brasil desde 2003, no tempo da gestão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva- foi um articulador fundamental nesses processos, que conhece a fundo.
Tanto ele como Enrique García concordaram sobre a importância de ter uma identidade unitária como bloco em um mundo globalizado como o de hoje, algo que o assessor brasileiro exemplificou com a formação da Unasul.
"Quando apresentamos o projeto, a ideia fundamental sobre a qual trabalhávamos era que a América do Sul tinha um potencial extraordinário para a inserção em um mundo que estava se tornando multipolar", explicou Marco Aurélio Garcia. "Avançamos com a convicção de que poderíamos ser um polo porque tínhamos, primeiro, grandes reservas de energia do mundo e, segundo, uma agricultura extraordinariamente importante, beneficiada pela tecnologia e pelo investimento.
O presidente-executivo do CAF, por sua vez, destacou o papel decisivo que o Brasil desempenhou neste processo. "Se o Brasil não estivesse comprometido com um processo de integração, a integração não seria possível", afirmou Enrique García. "A integração regional torna-se indispensável para entrar nas cadeias produtivas em nível global com inovação, tecnologia e com o fortalecimento de áreas e serviços industriais", acrescentou. "Mas, para obter essa integração é fundamental que os temas sejam articulados, como vimos no CAF com a infraestrutura".
Nos últimos 15 anos, o CAF aprovou mais de 65 projetos de integração sul-americana, incluindo estradas, gasodutos e telecomunicações, segundo explicou.
Marco Aurélio Garcia também destacou a necessidade de que a região aprofunde um processo de diversificação industrial, deixando para trás um modelo agroexportador de matérias-primas sem valor agregado para se inserir no atual cenário mundial.
"Nossos países não podem renunciar a uma vocação industrial", afirmou o brasileiro. "Mas, para incentivar um setor industrial mais forte temos que garantir que nossa indústria possa ser realmente competitiva", prosseguiu. "Isso seria um grande futuro para a região".
Para assistir o diálogo entre Marco Aurélio Garcia e Enrique García acesse o site www.conversandoconcaf.com ou o canal do YouTube "Conversando con CAF".