Aprendizagem e inovação no setor público
Uma parte importante do conhecimento necessário para administrar os serviços públicos é criada apenas dentro das agências que a oferece. Na verdade, é aí onde se tomam decisões de forma contínua sobre o uso de recursos, e este fluxo de experiências contém informações fundamentais para gerar aprendizagens sobre a gestão, podendo resultar em melhores serviços públicos.
Assim, é conveniente considerar algumas formas de gerar conhecimento com base na experiência como, por exemplo, nas medições do progresso dos projetos ao longo do tempo, a avaliação dos resultados associados a eles, e as avaliações dos seus impactos, sejam qualitativas ou quantitativas[1]. Neste sentido, a comunidade internacional tem se esforçado para promover a geração de evidências através de avaliações de impacto que são rigorosamente metodológicas, e a tomada de decisões de políticas públicas com base nesta evidência (evidence-based policymaking). No entanto, a generalização dessas práticas continua sendo escassa. Por que isso acontece? Por que, em alguns casos, o Estado não avalia o impacto dos seus programas?
Uma das razões é que a avaliação tem custos e riscos associados que diminuem os incentivos para utiliza-la como uma ferramenta de gestão, o que provoca, geralmente, que ocorram menos avaliações do que seria desejável. Isso significa uma menor geração de conhecimento e, portanto, menos decisões com base em informações credíveis e relevantes. No entanto, mais e melhor informação nem sempre se traduzem em melhores decisões. O processo de inovação política é complexo porque depende de fatores institucionais e conjunturais, e porque envolve muitas partes com interesses que são às vezes divergentes. Isso faz com que poucas inovações surjam a partir da aplicação de aprendizagens derivadas de evidências.
Embora as decisões de mudança ocorram em diferentes níveis, na maioria dos casos, a burocracia é responsável pela execução e acompanhamento dos programas públicos, assim como de administrar a prestação de serviços. Portanto, compreender as decisões da gestão que são tomadas no setor público passa por entender a burocracia.
É claro que se o burocrata soubesse que a sua decisão de mudança levaria a uma maior prosperidade, sempre tomaria a decisão adequada: mudar quando as condições estão em vigor e não mudar em caso contrário. No entanto, não há certeza de que a mudança seja efetivamente benéfica já que podem existir fatores externos que impeçam a realização do objetivo desejado. Por exemplo, uma mudança inesperada de funcionários fundamentais para realizar uma inovação pode reduzir o apoio político e orçamentário para a proposta e, portanto, diminuir sua probabilidade de sucesso. Assim, ao tomar a decisão de mudar, o burocrata enfrenta o risco de gastar recursos significativos e até mesmo deslegitimar sua instituição. Se o burocrata decide mudar quando não é possível, ou se não detecta a necessidade e a possibilidade de mudar quando deveria fazê-lo, a sua má decisão pode levar a serviços de pior qualidade e, portanto, reduzir sua probabilidade de ser promovido.
O gráfico a seguir apresenta algumas correlações que mostram possíveis determinantes da motivação para inovar (Painel 1) e da percepção com relação à receptividade de uma instituição às propostas de mudanças (Painel 2), segundo o cargo do trabalhador e o setor ao qual pertence . O Painel 1 mostra que ser chefe está associado a uma maior motivação para inovar; não parece haver uma diferença importante nesta motivação entre os setores público e privado; e ser chefe não está associado a uma maior motivação para a mudança por estar no setor privado, ao menos não de uma forma estatisticamente significativa. O Painel 2 mostra que os chefes do setor privado têm uma maior probabilidade de perceber uma boa disposição para a mudança em suas unidades de trabalho.
Motivação para fazer sugestões de melhoria e disposição da área para aceitar novas ideias.
Diferenças na probabilidade por setor e posição a/ b/
a / O gráfico mostra os coeficientes e os intervalos de confiança de cerca de 90% por mínimos quadrados ordinários. Para o painel esquerdo se utilizou como variável dependente a pergunta: quanto está de acordo com que você faça sugestões de melhora? E para o da direita: quanto está de acordo com que em sua área de trabalho as novas ideias são aceitas? As resposta em ambos os casos assumem valores de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). Os pontos representam a diferença nos valores desta variável entre cada grupo e a linha vertical é o intervalo de confiança da diferença estimada. Na regressão controlou-se por cidade e por nível de escolaridade.
b / As cidades incluídas na pesquisa são Buenos Aires, La Paz, São Paulo, Bogotá, Quito, Cidade do México, Cidade do Panamá, Lima, Montevidéu e Caracas.
Fonte: Elaboração própria com dados da Pesquisa CAF 2014.
A Colômbia já começou a dar os primeiros passos rumo a uma cultura de aprendizagem e avaliação de programas. O país conta com o Sistema Nacional de Avaliação de Gestão e Resultados (SINERGIA), criado em 1994 a partir do Plano Nacional de Desenvolvimento, com o objetivo de gerar as informações necessárias para o cumprimento das metas do plano, que é renovado a cada quatro anos. As políticas a ser avaliadas são definidas pelo Comitê Intersetorial de Avaliação, Gestão e Resultados, e as avaliações são realizadas por terceiros, que são contratados através de um sistema competitivo de licitação. SINERGIA também proporciona supervisão técnica para a avaliação e publica um documento com os resultados obtidos em cada caso, que podem ser consultados em seu website.
O Relatório de Economia e Desenvolvimento 2015 (RED), elaborado pelo CAF -banco de desenvolvimento da América Latina-, apresenta evidências de um diagnóstico do estado do monitoramento e da avaliação de políticas públicas na região e, depois, analisa, em primeiro lugar, o processo através do qual a experiência se converte em conhecimento a partir da perspectiva dos que decidem e atuam na administração pública, enfatizando os incentivos e os riscos políticos que enfrentam. Em segundo lugar, explora como essa aprendizagem pode se converter em inovações de gestão pública - novas formas de fazer as coisas - identificando os fatores institucionais que podem favorecer esse processo. A aspiração é contribuir para uma reflexão sobre o desenvolvimento de instituições públicas capazes de aprender sobre o que fazem e não desperdicem a aprendizagem.
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[1] As avaliações de impacto diferem das avaliações de resultados em que buscam quantificar a parte do resultado observado que se pode atribuir com confiança ao projeto ou à política.