O jornalismo está relatando o Apocalipse?
"Os temas do meio ambiente se converteram em uma ladainha", explica Tomás Ciuffardi, jornalista do Programa Visión 360 do Equador. Segundo Ciuffardi, o cidadão criou um tipo de resistência às informações sobre o meio ambiente porque normalmente possuem um tom apocalíptico e o cidadão "se sente encurralado". O jornalismo explica quais são os problemas, mas não ajuda para saber o que fazer e como lidar com eles. "Não coma carne, porque as flatulências das vacas influenciam nas mudanças climáticas; o clipe que você usa pode matar uma tartaruga no mar; o caderno que você usa promove o desmatamento". Frente a estas informações, o cidadão não sabe o que fazer nem se sente motivado a agir perante a realidade ambiental.
Esta reflexão foi feita durante a palestra "A cidade coberta de uma visão ambiental", durante o seminário internacional "Jornalismo, vida urbana e resiliência na América Latina", organizado pela Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo (FNPI) e pela Secretaria de Cultura de Quito, com o apoio do CAF -Banco de Desenvolvimento da América Latina.
A palestra também levantou três desafios na cobertura de temas ambientais:
- Superar o ambientalismo fácil. Ao contrário de outros eventos, os problemas ambientais não acontecem durante um minuto e, segundo a equatoriana Belén Arroyo, estão relacionados com aspectos de diferentes tipos. O desafio é se aprofundar nas causas, mudanças e multidimensionalidade dos problemas ambientais.
- Os cidadãos vivem os problemas ambientais. Isso não significa que tenham consciência dos mesmos, já que esses problemas são parte da vida cotidiana. O desafio é tornar evidente e humano o que se tornou imperceptível.
- As abordagens técnicas. Estas são as explicações que vêm dos órgãos especializados. É necessário desmiuçar as informações para que o cidadão entenda e dimensione sua realidade ambiental.
No encerramento debateu-se o papel do jornalismo neste tipo de cobertura. A conclusão: o jornalismo não é responsável pela solução dos problemas, mas sim por contribuir para o debate público. Alejandra Sánchez, jornalista mexicana, resume: "Uma sociedade informada toma melhores decisões".