Privadas de liberdade apresentaram obra de teatro que reflete as suas aspirações
"Santas Privadas" é o título da obra de teatro de dança que as detentas do Centro de Orientação Feminina de Obrajes (COFO), de La Paz, apresentaram como parte do projeto "Pan de Libertad(Pão de Liberdade), empresa social que transforma vidas", uma iniciativa de inovação social liderada pelo CAF -Banco de Desenvolvimento da América Latina- e seus aliados estratégicos. A encenação é o resultado de uma criação coletiva onde o teatro se converte em uma nova ferramenta para reabilitação e ressocialização.
"O objetivo desta atividade é contribuir para a melhoria das condições de vida dessas mulheres, fortalecendo sua saúde psicoemocional, componente fundamental que complementa o modelo de intervenção que estamos implantando no COFO, com o apoio das autoridades prisionais, no desenvolvimento uma empresa social que equilibra a produtividade e o bem-estar, e oferece oportunidades para a inserção social e laboral da população carcerária", afirma Ana Mercedes Botero, diretora de Inovação Social do CAF, que continua explicando sobre os problemas que as detentas enfrentam diariamente. "A perda da liberdade gera muita ansiedade e com essas dinâmicas buscamos que elas possam se expressar e descobrir uma liberação emocional, motivar-se, reconhecer suas habilidades e decidem seguir em frente".
Em "Santas Privadas" se aborda a questão da vida de uma mulher na prisão, o que sente e como assume seu confinamento, assim como sua necessidade de uma segunda oportunidade. "As detentas escreveram a obra porque tinham algo que oferecer e transmitir como pessoas privadas de liberdade", diz Carol Espejo, diretora do projeto Wayruru, grupo artístico que liderou as aulas teatrais no COFO. "É uma interpretação do sistema judicial, penitenciário e da sociedade que as criticam, muitas vezes, por sua condição de rés".
O projeto foi desenvolvido durante seis meses, tempo no qual mais de 100 detentas participaram da oficina e receberam treinamento em interpretação, expressão corporal, dança e desenvolvimento pessoal. "Em uma primeira etapa trabalhamos a gestão das emoções, o se conhecer internamente para interpretar o que sentiam", explica Espejo. "Depois incorporamos o trabalho do corpo onde através da expressão e da dançar essas emoções se tornaram mais visíveis e se converteram em expressões com estrutura", prosseguiu. "Nós também incorporamos terapias de energia, massagens e exercícios de apoio à questão emocional".
"A arte nos libertou"
A obra foi interpretada por cinco detentas que atualmente cumprem pena no COFO. Essas mulheres expressaram que estar no palco foi uma experiência única, cheia de reflexões. "Aprendemos que a liberdade também se sente por dentro", afirmaram. "A arte nos libertou".
"Eu tenho 55 anos e danço, atuo e sinto a energia positiva que me rejuvenesce; eu estou feliz", contou uma das detentas. Outra das participantes disse que através da obra pôde expressar a raiva e a impotência que deve suportar devido a algumas situações negativas que vive na prisão. "Tenho um nó na garganta e às vezes não sei o que fazer", comentou. "Na oficina aprendi a desabafar meus sentimentos e canaliza-los de boa maneira".
Duas das intérpretes mais jovens e tímidas do elenco de "Santas privadas" afirmaram que atuar as encheu de magia. "Eu estava com medo e, apesar de eu não falar muito na obra, percebo que quando danço me sinto especial", disse uma delas.
No encerramento da obra, as detentas dizem no palco palavras positivas e de superação. "As pessoas pensam que porque nós estamos aqui (na prisão) não somos úteis, mas a mensagem é que, apesar de tudo, nós podemos oferecer mais do que pensam", reflete uma das atrizes.
Espejo assegurou esperar que, no futuro e com as providências necessárias, seja possível apresentar a obra em outras penitenciárias para, assim, motivar os outros detentos. "As atrizes sonham em se apresentar em um teatro", disse Espejo. "Nós sabemos que há muitos trâmites para conseguir autorização, mas recebemos apoio do sistema penitenciário, assim que queremos trabalhar na ideia de levar esta obra para fora dos muros do COFO".
Pan de Liberdad
"Pan de Libertad(Pão da Liberdade), empresa social que transforma vidas" incentiva um modelo de negócio cocriado com as detentas do COFO que visa sua reintegração social e produtiva, assim como melhorar as suas condições de vida. Este projeto de inovação social, promovido pelo CAF e seus aliados estratégicos, tem como base um equilíbrio entre produtividade e bem-estar, apoia a formação, produção e comercialização em panificação e tecelagem, assim como o desenvolvimento de programas de lazer e atendimento médico em saúde sexual, reprodutiva e psicoemocional.
Até agora, 150 detentas foram treinadas em panificação e 70 em tecelagem. Sessenta já participam na produção de panificação e confeitaria e 35 na produção de tecidos, incluindo a criação e o desenvolvimento de protótipos. A rede comercialização é formada por familiares das detentas, assim como voluntários de universidades. O nome da marca social OUT foi sugerido pelas próprias participantes do projeto, que compõem o grupo "Associação de Mulheres de Ação Produtiva do COFO".
A iniciativa começou há dois anos a partir de um modelo de negócio cocriado com a participação das detentas do COFO. "Pan de Libertad" é uma pequena empresa que gera benefícios econômicos para o bem-estar das detentas e que visa sua reintegração social e profissional.
O projeto recebe incentivo da Iniciativa de Inovação Social do CAF em aliança estratégica com a Associação Semilla de Vida (Sevida), o Banco Mercantil Santa Cruz, a Embaixada da Alemanha, a Associação Meio Ambiente e Desenvolvimento em Ação (ENDA), a Fundação IES - Inovação de Empreendedorismo Social, o Sistema Penitenciário da Bolívia, a Universidade del Valle - UNIVALLE e a Universidade de Aquino Bolívia - UDABOL.