10 conclusões sobre o jornalismo jovem e empreendedor
Depois de três dias de reflexão sobre a situação e os desafios dos novos meios de comunicação na Ibero-américa, terminou nesta quarta-feira, dia 26 de outubro, o Encontro Ibero-americano de Jornalismo Jovem e Empreendedor, realizado em Cartagena de Índias. O intercâmbio de experiências entre jornalistas procedentes da Ibero-américa e dos Estados Unidos demonstrou que cada vez mais os repórteres vão perdendo o medo de experimentar, de trabalhar com colegas de diferentes países e criar negócios.
Estas são 10 das conclusões deixadas pelo Encontro:
1. Há um compromisso regional para fazer um jornalismo de qualidade. As experiências em novos formatos narrativos, construção de públicos e financiamento demonstraram que na América Latina há interesse para se fazer um jornalismo que não obedeça a poderes políticos ou econômicos.
Ficou clara a importância de fortalecer o jornalismo independente e promover a verdade perante poderes e discursos políticos quando há grupos que preferem acreditar ao invés de entender. Nossa missão, afirmou Daniel Mountain, também é "lançar dúvidas" sobre as pessoas, porque esta é uma ferramenta para assimilar criticamente os discursos do poder.
2. Mais experimentação e menos medo de errar. A experimentação é uma característica intrínseca de todo empreendimento jornalístico digital, como explicou a jornalista norte-americana e cofundador da organização Sembramedia.org, Janine Warner.
O jornalismo está passando por um período de experimentação sem precedentes e no qual especialmente os meios digitais nativos não têm medo de experimentar, cometer erros e tentar novos formatos narrativos, estratégias para interagir com o público ou planos de negócios para gerar receita.
3. O público valoriza os formatos interativos e ainda falta muito para se descobrir em outras narrativas. Embora o jornalismo experimente com as narrativas digitais e reflita sobre as mesmas há mais de uma década, o Encontro demonstrou que os formatos transmídia epodcastingainda têm um longo caminho a percorrer na Ibero-américa.
Os participantes compartilharam vários exemplos de trabalhos que obtiveram um maior alcance por não se tratar de narrativas lineares, mas sim de propostas que misturavam vídeo, som, texto, visualização de dados e até mesmo elementosoff-line. As oficinas de trabalho também concluíram que ospodcastssão ainda narrativas virgens na América Latina, cujo momento estelar está quase chegando.
4. Para os meios digitais nativos, o conceito de jornalismo é amplo e vai além do cenário online. Outra característica comum de vários empreendimentos digitais é a sua concepção de jornalismo mais além do próprio ofício.
Para meios como Universo Centro, de Medellín (Colômbia), Nómada, da Guatemala, ou Agência Pública, do Brasil, os espaços físicos para se encontrar com seu público fazem parte da sua missão jornalística.
O Universo Centro, por exemplo, abriu em Medellín, há alguns meses, o Centro Cultural La Pascasia, enquanto que Nómada organizou festas para conhecer mais a respeito dos seus leitores, trocar ideias com eles a respeito da agenda jornalística e encontrar patrocinadores que lhes gerem renda. A Agência Pública, por sua vez, criou a Casa Pública, um lugar para apoiar o jornalismo independente na América Latina; este ano, ofereceram bolsas de estudo e hospedaram jornalistas de diferentes países para cobrir os Jogos Olímpicos a partir do enfoque dos direitos humanos.
5. Os jovens sim leem e estão interessados em temas complexos. Uma das principais conclusões deste Encontro é que as novas gerações sim leem e não são apáticas como normalmente se acredita. Experiências jornalísticas como Vice e Cerosetenta provam que a geração dos milênios -sim- consome informação em formatos longos e está interessada no contexto político dos seus países.
O primeiro dia do Encontro, na mesa de debate que contou com a participação de Germán Rey, membro do Conselho de Administração da FNPI, e Rebeca Grynspan, secretária-geral da Secretaria Geral Ibero-americana, concluiu que os jovens ibero-americanos estão cada vez mais envolvidos com as realidades dos seus países. Os novos meios de comunicação abrem caminhos com uma agenda narrativa e tons próprios.
6. Os meios digitais nativos querem se distinguir com uma agenda e tons próprios, particularmente para se separar das agendas dos meios tradicionais. Esses empreendimentos cujas agendas temáticas e tons narrativos são bem definidos ou apontam para um nicho específico costumam ser os que se posicionam mais rápido: entre eles estão Vice (para os chamados milênios), La Silla Vacía (narra o poder que os outros não contam na Colômbia), Ojo Público no Peru (especializa-se em reportar sobre o poder nesse país com as narrativas do jornalismo de dados) ou Nómada (que se define como um meio feminista, que reivindica os direitos sexuais das mulheres).
7. A sustentabilidade financeira dos novos meios de comunicação continua sendo incerta. Os empreendimentos digitais costumam ter recursos financeiros garantidos para funcionar durante o primeiro ano ou até mesmo durante os três primeiros, mas depois desse tempo passam por uma verdadeira incerteza econômica. Isso ocorre porque a maioria começa a trabalhar com capitais-semente que são proporcionados por organizações internacionais durante um período específico.
Na batalha para sobreviver além do capital-semente, os novos meios de comunicação têm sido bastante criativos: criam lojas para vender livros on-line, apostam na publicidade nativa da Internet, aplicam para obter fundos de financiamento para projetos específicos de pesquisa, trabalham em parceria com algumas ONGs, organizam eventos alternativos como festas patrocinadas, recorrem aocrowdfunding, ministram oficinas sobre jornalismo e até mesmo vendem seus produtos noticiosos para outros meios de comunicação.
Para evitar esse problema, o diretor da FNPI, Jaime Abello, recomendou a realização de um planejamento estratégico do meio de comunicação antes da sua criação. "É a parte chata, mas necessária para saber até onde se pode ir".
8. Diversificar o financiamento para assegurar a independência. Apostar na diversificação das fontes de renda para não depender de nenhum grupo de poder. Especialmente se o meio recebe pautas de entidades estatais. Alguns participantes opinaram que as receitas provenientes de fontes públicas não devem ser rejeitadas, sempre e quando fique completamente claro que a agenda jornalística não se permeará e que a independência será mantida.
9. A colaboração entre jornalistas é fundamental. O jornalismo jovem e empreendedor tem como alvo públicos globais através da colaboração de diferentes meios. Durante o Encontro surgiram algumas iniciativas jornalísticas de trabalho colaborativo. Um participante destacou que este tipo de atividade promove a construção de uma comunidade entre jornalistas.
10. Os jornalistas assumem riscos financeiros para prosseguir com seus empreendimentos. Os jornalistas empreendedores costumam ter duas qualidades: são arriscados e trabalham com disciplina até perseverar. Dois projetos são a prova disso: El Faro, vencedor do Prêmio Gabo de Excelência Jornalística 2016, nasceu há 17 anos em El Salvador e não teve renda durante seus três primeiros anos. E portal Nómada, fundado por Martín Rodríguez, é o resultado de um capital-semente de investidores e de um empréstimo bancário de 230.000 dólares, obtido por Rodríguez.
O fórum foi organizado pela Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano (FNPI), pela Associação de Jornalistas Europeus (AEJ) e pelo CAF -Banco de Desenvolvimento da América Latina. O evento teve a Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB) como aliada, contou com o apoio do Centro de Formação da Cooperação Espanhola (CFCE) e com o patrocínio da Telefónica, Iberia, Banco Santander, FCC e Iberdrola.