Leonel Fernández: “O grande desafio atual da República Dominicana e de toda a região é obter mais produtividade”
O ex-presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, e o presidente-executivo do CAF -Banco de Desenvolvimento da América Latina-, Enrique García, destacaram na série "Conversando com o CAF" a necessidade de uma agenda de longo prazo para dar um salto produtivo significativo e propuseram a importância de um sistema de governança em nível global para enfrentar os desafios apresentados pela nova realidade mundial em questões de acordos comerciais, migração e integração.
O ex-presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, afirmou que o principal desafio atual que tanto o seu país como o resto da região enfrentam é o de "dar um salto na produtividade" com a incorporação de mais tecnologia, inovação e recursos humanos qualificados para avançar "rumo a um processo de desenvolvimento sustentável". Junto com Enrique García, presidente-executivo do CAF -Banco de Desenvolvimento da América Latina-, durante um novo ciclo da série "Conversando com o CAF", Fernández ressaltou o ativo setor agropecuário dominicano, mas ressaltou a necessidade de contar com mais tecnologia para que se possa "ir mais além".
"O grande desafio atual que temos na República Dominicana e no resto da região é dar um salto na produtividade para avançar rumo a um processo de desenvolvimento sustentável", disse Fernández, que presidiu seu país entre 1996 e 2000 e, em seguida, por dois períodos seguidos entre 2004 e 2012.
"Na República Dominicana podemos dizer que desfrutamos da segurança alimentar porque produzimos 80% do que consumimos", explicou Fernández. "Agora o desafio é conseguir uma maior produtividade para poder exportar para o resto da região, e isto pode ser obtido com mais tecnologia, inovação e desenvolvimento de recursos humanos para que façam ciência aplicada nos nossos países".
A aplicação da biotecnologia, a produção agrícola sob um sistema de clima controlado e o desenvolvimento de novas sementes para determinados produtos que permitam melhorar a qualidade e a produtividade agropecuária são, em sua opinião, alguns dos caminhos para dar esse necessário salto produtivo.
O presidente-executivo do CAF concordou que os desafios não são apenas da República Dominicana, mas de toda a região, e explicou que enfrenta-los exige a adoção de uma agenda de longo prazo.
"Se não se adota uma agenda de longo prazo que deixe claro que a América Latina tem que mudar o modelo fundamental de vantagens comparativas tradicionais, com base nos preços das matérias-primas e exportações básicas, para um modelo de vantagens competitivas onde exista um maior valor agregado, vamos estar sempre no mesmo lugar", afirmou García. "Para isso é necessário realizar mudanças fundamentais que têm a ver com a educação, a infraestrutura, a institucionalidade", prosseguiu. "Não são mudanças que possam ser feitas em três anos; portanto, agendas de longo prazo e de consenso são necessárias".
Durante a conversa, ambos citaram a situação econômica mundial e regional, e destacaram as conquistas e os desafios proporcionados pelos acordos de livre comércio que foram iniciados nos últimos anos.
Fernández ressaltou o caráter "mais equilibrado" daqueles tratados que contemplam o princípio da reciprocidade, como o assinado entre o seu país e os Estados Unidos, já que esses permitem que as economias de menor escala não sejam prejudicadas. "Reconhece-se que o ponto de partida é desigual, que não somos economias que estão no mesmo plano e, portanto, temos que analisar produto por produto", observou o ex-presidente.
Neste sentido, ambos concordaram sobre a importância do desenvolvimento de um mecanismo de governança global que leve em conta o interesse coletivo em cima dos interesses particulares de cada país para superar estes tipos de desafios da era atual.
"Se não existir um marco institucional mais global, definitivamente teremos mais riscos porque, em muitos dos acordos comerciais recentes, como o Tratado Transpacífico, há vencedores, mas também perdedores", refletiu García. "Se deixarmos de fora os grandes intervenientes, como o Brasil e a China, imediatamente surgem ações e reações", prosseguiu. "Por isso, acho que a discussão deve ser sobre como restabelecer o conceito de governança em um caráter mais global em todas as questões e com uma visão integral, buscando mecanismos de coordenação que sejam mais amplos".
Para Fernández, contar com instituições de nível mundial e regional para garantir a governança global é fundamental para abordar questões como a segurança coletiva, a proteção da democracia, a defesa dos direitos humanos e a questão da migração, destacando os esforços que o seu país está fazendo neste último aspecto.
García considerou que o problema migratório é um assunto "muito sério, que tem conteúdo humano, geopolítico e consequências". Portanto, disse, "merece ser um dos temas incluídos em uma governança de caráter mais global, já que aborda-lo a partir de um nível estritamente nacional é muito difícil".