Brasil enfrenta década crucial para fortalecer habilidades dos jovens
A América Latina tem a vantagem de contar com uma força de trabalho jovem. Para poder tirar proveito desse fato deve investir, com forte ênfase, na formação das habilidades dos jovens no campo cognitivo, socioemocional e ambiente físico de convivência. Este é um dos temas a serem abordados no lançamento do Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED 2016) do CAF, a ser realizado em 16 de novembro em Brasília e 17 de novembro em São Paulo.
Depois do fim do auge do ciclo das materias primas, é cada vez mais prioritário investir em capital humano. O Brasil, assim como muitos outros países latinoamericanos, está transitando por um contexto ainda favorável para promover o desenvolvimento de longo prazo, devido ao potencial de seus jovens: a proporção de indivíduos dependentes em relação à população em idade de trabalho se encontra declinando e se espera que o fim dessa janela demográfica aconteça em 2025. Como os jovens são os que vão compor a força laboral do futuro, potencializar o capital humano é a melhor forma de tirar proveito desse período, até 2025.
Esta é uma das recomendações do Relatório de Economía e Desenvolvimento (RED) 2016 "Mais habilidades para o trabalho e para a vida: os apoios da família, da escola, do entorno e do mundo do trabalho, elaborado pelo CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina. No documento, também se destaca a existência de três habilidades básicas para a qualidade de vida e do trabalho: as cognitivas, as socioemocionais e as físicas, que se acumulam desde a primeira infância.
Mesmo sendo o Brasil o país da América com melhor desempenho nas provas PISA desde 2003 até o momento, o que indica um camino de melhora nas habilidades dos estudantes, esse resultado não tem se traduzido em uma maior qualidade educativa. O Brasil se encontra entre os três países (junto com Peru e Colômbia) com pior desempenho de seus estudantes nas provas PISA na região. Ainda, a fração de estudantes que não alcança o segundo nível de rendimento nas provas é dramáticamente alta, alcançando 70% dos estudantes, embora a mesma participação seja de apenas 15% para países da OCDE.
"A familia, o mundo do trabalho e o ambiente físico e social em que transcorre a vida dos brasileiros são - junto com o sistema educativo - responsáveis pela formação das habilidades cognitivas, socioemocionais e físicas da população. O RED 2016 mostra como estas três dimensões do desenvolvimento individual estão íntimamente vinculadas com o éxito no emprego, na educação, na saúde e com os níveis de inclusão cívica e social das pessoas", explica Pablo Sanguinetti, economista-chefe e director corporativo de Análises Econômicas e Conhecimento para o Desenvolvimento da CAF.
Apesar dos grandes progresos no aumento da cobertura em educação, a deserção escolar segue sendo um problema importante no Brasil. Segundo cifras de 2013, 20% dos jovens de 17 anos de idade já havia abandonado a escola (um pouco menos do que a média da América Latina, que é de 25%). A este problema, se soma o fato de que uma fração muito baixa dos jovens (55%) consegue completar o ensino médio.
A pesquisa também revela que o abandono escolar na região e no país é um problema precursor de outro que afeta severamente os jovens: o fenômedo da geração Nem-Nem (jovens que não estudam e não trabalham). No Brasil, o percentual de indivíduos entre 15 e 25 anos nessa condição alcança 20% (1 em cada 5, similar à média da América Latina). Tal fenômeno tem se reduzido ao longo do tempo, porém de uma maneira muito gradual no Brasil (entre 1994 e 2014 o índice populacional de Nem-Nem se reduziu em apenas 2%).
Estes são alguns dos pontos principais que serão abordados nas apresentações sobre o RED 2016 que serão realizadas em Brasilia na quarta-feira, 16 de novembro, no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Esplanada dos Ministérios, Bloco K; e no dia seguinte (17 de novembro) em São Paulo, na Sala da Congregação, 2º andar, Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, a partir das 8:45.