Amorim e Camdessus defendem reformas na governança global para responder aos atuais desafios
O ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil e ex-diretor do FMI conversaram com Enrique García, presidente-executivo do CAF, sobre a nova e realidade mundial em transformação, e destacaram a importância do avanço das instituições globais com as mudanças necessárias para enfrentar adequadamente os novos desafios globais.
O ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-governador do Banco da França, Michel Camdessus, e o ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, destacaram a necessidade e a urgência de moldar um novo sistema de governança mundial que reflita e possa responder aos desafios apresentados pelo contexto global em transformação, uma tarefa para a qual consideraram fundamental a capacidade de consenso e coordenação.
Durante uma nova edição do programa "Conversando com o CAF" junto com Enrique García, presidente-executivo do CAF -Banco de Desenvolvimento da América Latina, divulgada em 3 de fevereiro, Camdessus e Amorim coincidiram que a nova realidade, caracterizada por um processo de rápida mudança, impõe desafios significativos para a comunidade internacional.
"Hoje temos os perigos das crises, das desigualdades crescentes, das mudanças climáticas, da segurança pública", enumerou Camdessus, ex-governador do Banco da França. "Fica claro que as instituições que surgiram após o fim da Segunda Guerra Mundial não podem estar a par e responder aos desafios de hoje, que são totalmente diferentes".
Para Amorim, a criação do Grupo dos 20 (G-20) foi um avanço no sentido de uma melhor governança no setor financeiro, porque tem uma maior representatividade do que o G-7, mas considerou que ainda falta muito para ser feito em outros aspectos.
"No caso da paz e da segurança, o poder continua totalmente centralizado nos cinco países que ganharam a Segunda Guerra Mundial e que, também, possuem a bomba atômica", afirmou Amorim.
García, por sua vez, destacou como o modelo de governança do CAF tem servido para responder adequadamente às novas realidades. O presidente-executivo enfatizou dois aspectos que, em sua opinião, podem ser aplicáveis para outras entidades: uma diretoria não residente e o direito de voto articulado.
"Eu gostaria que o FMI seguisse o exemplo do CAF", disse Camdessus.
O peso crescente dos mercados emergentes e a volatilidade dos sistemas financeiros foram alguns dos desafios destacados durante a conversa e todos concordaram que é necessário um maior nível de coordenação como resposta.
Amorim disse que na América Latina há uma "consciência crescente" desta necessidade de cooperação e coordenação, mas admitiu que essa ainda "não é espontânea". Nesse sentido, García sugeriu a importância de "fortalecer os mecanismos de coordenação interna" da região, que em sua opinião, dependem da qualidade das instituições políticas.
Por usa vez, Camdessus referiu-se à instabilidade financeira global desses últimos anos e considerou que uma das ações urgentes seria reformar os instrumentos de coordenação entre as economias para evitar os desajustes que produzem volatilidade. "Isso deve ser feito agora mesmo", enfatizou, defendendo "uma reforma no sistema monetário internacional com uma ambição muito maior".
Um resumo da conversa está disponível no website www.conversandoconcaf.com.