Qual é o papel da mulher nas redações e notícias?
A questão de gênero e o jornalismo se desenvolveram e se transformaram rapidamente nas últimas décadas, apresentando um novo cenário para os jornalistas que desejam colocar a questão de gênero na agenda mediática.
"A questão de gênero está na moda", disse a jornalista argentina Silvana Tamous durante o workshop Mulheres líderes nas redações. Este impulso na mídia deve-se a uma "questão trágica".
O papel mais predominante das mulheres nas notícias é o de sobreviventes de violência doméstica, de acordo com um estudo do projeto de Monitoramento Global da Mídia da Associação Mundial para a Comunicação Cristã (WACC). O documento indica que este aspeto tem se refortalecido nos últimos 10 anos.
O tratamento informativo da mídia com relação às notícias de violência baseada em gênero afeta a maneira como a sociedade percebe os crimes.
Tamous afirmou que a melhor maneira de lidar com os problemas que as mulheres enfrentam é contando suas histórias, sem negligenciar a importância dos dados. A narração é uma ótima ferramenta para fazer com que o leitor identifique o que lhe parece distante de si.
É fundamental nunca perder a curiosidade e não se satisfazer apenas em responder quem, quando, como, onde e por quê, disse a jornalista mexicana Daniela Mendoza. "Não existem perguntas bobas nem pequenas notas". Nesta mesma linha, a jornalista venezuelana Martha Uribe aconselhou "olhar para o que não é visto" e sempre reinventar a maneira de tratar as questões de gênero.
Por outro lado, a pouca presença de mulheres em cargos de gerência nos meios de comunicação representa um desafio para as jornalistas nas redações. "As mulheres ocupam 27% dos cargos de gerência sênior nas empresas de mídia e 35% da força de trabalho nas redações", apontou o relatório da WACC, que coletou dados em 114 países e avaliou mais de 22 mil matérias de imprensa. Uma situação que corresponde à situação geral das mulheres na América Latina, onde apenas 50,3% participam das atividades econômicas, enquanto, no caso dos homens, esse percentual é de 78,9%.
O estudo da WACC aponta que esta situação faz com que os valores masculinos definam os valores nas notícias e a atuação das mulheres no mundo jornalístico. Essas situações podem ser associadas com crise de identidade, fim das teorias de gênero que analisam a atitude das mulheres com relação ao acesso a espaços tradicionalmente masculinos.
No entanto, a jornalista argentina Silvana Tamous acredita que isto não deveria ser um impedimento para o jornalismo de gênero. "O gênero não deve ser algo a ser debatido. Uma mulher, e todos em geral, deveriam ter uma perspectiva de gênero em tudo o que fazemos".
O workshop Mulheres Líderes nas Redações é uma atividade organizada pela Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano - FNPI - e CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina -, com o apoio da Universidade Católica do Chile.