Em busca de cidades mais bem preparadas para fenômenos naturais extremos.
A América Latina precisa de uma nova abordagem integral que contribua para reduzir as incontáveis perdas humanas e materiais causadas por terremotos, inundações ou ciclones.
A América Latina é uma das regiões mais afetadas pelos chamados fenômenos naturais extremos (terremotos, chuvas torrenciais, ciclones tropicais ou furacões) causadores de desastres que tiram milhares de vidas e geram perdas materiais substanciais. Como se isso fosse pouco, uma parte desses fenômenos, aqueles relacionados às flutuações climáticas, estão recrudescendo em consequência do aquecimento global.
Com efeito, entre 2000 e 2013, somente na América Central e na América do Sul, os fenômenos hidrometeorológicos (secas, inundações, precipitações extremas ou ciclones tropicais) causaram mais de 13.000 mortes, afetaram mais de 53 milhões de pessoas e causaram perdas de aproximadamente US$ 52 bilhões, de acordo com a Universidade de Leuven. Esses números têm colocado a América Latina como líder mundial no ranking das regiões com maiores danos econômicos em decorrência de desastres e mostram a relevância do problema para as economias da região.
As cidades da região são as cidades que sofrem as piores consequências dos fenômenos naturais extremos, uma vez que concentram quatro em cada cinco latino-americanos e o conjunto dos ativos físicos mais importantes das economias nacionais.
Parte do motivo da vulnerabilidade de muitas cidades da América Latina diante desse tipo de fenômeno se encontra na fragilidade do planejamento e da gestão urbana, esta última agravada pela crescente urbanização que leva à ocupação de zonas inadequadas para a construção de moradias, por exemplo, ou ao crescente congestionamento de automóveis e à consequente geração de emissões.
"A tendência é que os desastres aumentem em frequência e intensidade, e as cidades devem se preparar para enfrentá-los com ferramentas melhores. Não serão necessários apenas recursos financeiros, mas também uma estrutura adequada de governança da gestão integral do risco de desastres que permita abordar de forma abrangente cada uma das etapas, desde a identificação, avaliação e prevenção do risco até a etapa final de reconstrução e reabilitação dos dados causados pelos desastres", afirma Pablo López, especialista em desenvolvimento urbano do CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina.
Nesse sentido, há um consenso generalizado de que a América Latina precisa melhorar a maneira como prepara suas cidades para enfrentar os fenômenos naturais extremos. Entre os principais aspectos a serem levados em conta para tornar as cidades resilientes a desastres, destacam-se os seguintes:
- Melhorar a gestão do uso do solo urbano
- Projetar e construir infraestruturas mais bem adaptadas
- Tratar integralmente as bacias hidrográficas urbanas
- Melhorar a gestão dos serviços de coleta de resíduos e a infraestrutura de drenagem
- Incentivar a participação comunitária na definição de ações ou desenvolver informações em nível local
"Para obter cidades resilientes, essas devem passar de uma abordagem reativa a uma abordagem preventiva, uma vez que prevenir ou reduzir os desastres é mais eficiente em termos de custo do que a ação de responder a eles", assegura López.
Nesse sentido, o trabalho conjunto da sociedade civil e dos governos locais e regionais será essencial.
Um planejamento urbano moderno também deve levar em conta uma abordagem integral da gestão de riscos que inclua a infraestrutura de edifícios, espaços verdes e abertos, estradas e equipamentos comunitários capazes de responder de forma eficaz aos futuros eventos geoclimáticos.
O CAF trabalha no desenvolvimento de projetos resilientes e de baixa emissão de carbono nos países latino-americanos, que incluem o projeto de infraestruturas resilientes a fenômenos naturais extremos, com o objetivo de prevenir e mitigar o efeito das inundações nas bacias hidrográficas de diversos rios da região, bem como no desenvolvimento de mecanismos de transporte sustentável, entre outras intervenções. A instituição prevê que, até o ano 2020, 30% de suas aprovações serão referentes a projetos ecológicos e que essa tendência aumentará, sendo que a estimativa é que atinja 50% até 2050.