Progressos e desafios da revolução tecnológica nos serviços financeiros do Uruguai
CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- participou do segundo encontro do ciclo de palestras “A revolução da tecnologia nos serviços financeiros e seu impacto no Uruguai: apps, fintech e o sistema bancário digital”.
Em nível global, o ecossistema financeiro passa por grandes transformações como consequência do desenvolvimento tecnológico, que provocou um aumento vertiginoso no fluxo de informações e na implementação de serviços ligados ao setor. Com o objetivo de promover o debate sobre os novos desafios, realizou-se no Banco Central do Uruguai (BCU) o segundo encontro do ciclo de palestras “A revolução da tecnologia nos serviços financeiros e seu impacto no Uruguai: apps, fintech e o sistema bancário digital”. O evento foi organizado pela Integra Innovación Inclusiva em parceria com a Câmara Uruguaia de FinTech, e contou com a participação de CAF -banco de desenvolvimento da América Latina-.
Além de Daniel Spechar, executivo principal da direção de setores produtivos e financeiros da região sul do CAF, participaram do evento Pablo Gagliardi, cofundador da Prezzta; Alfredo Bruce, diretor da Prex; Leonardo Vernazza, fundador da Paganza; Guillermo Varela, diretor da Plexo; Juan Carlos Martínez, gerente de produto da Midinero e Redpagos; Dani Vianna, cofundador e CEO da Inversionate; e Sofía Lanza, advogada e cofundadora da Socius.
Em seu papel de moderador, Spechar destacou a importância para o CAF da possibilidade de trocar experiências com diversos atores do setor financeiro sobre as mudanças vividas na execução de empréstimos entre indivíduos, denominados P2P lending.
“É muito importante para o CAF apoiar o ecossistema de empreendimentos de alto impacto, já que tem muitos benefícios para a população em todos os aspectos. As mudanças tecnológicas permitem gerar modelos de negócios replicáveis e escaláveis. As empresas fintech permitem oferecer, com eficiência, mais e melhores produtos e serviços financeiros a uma população que normalmente não é atendida ou não está bancarizada, e possibilitam o acesso a custos mais baixos, o que leva a um crescimento mais equitativo e sustentável no tempo”, afirmou o executivo.
Gagliardi, por sua vez, reviu o surgimento de empresas de P2P lending, apresentando exemplos de operadores destacados do mundo e enfatizando que é um modelo amplamente desenvolvido pelas facilidades que proporciona.
Lanza pôs o foco no quadro normativo da atividade, ilustrando a situação de vários países da região e do mundo. Argumentou que “a regulamentação dará segurança jurídica ao mercado. O empréstimo entre indivíduos é uma atividade de mediação e são necessárias normas que otimizem o processo e os benefícios para todas as partes. Deve-se fomentar o crescimento econômico relacionado com a inclusão financeira”.
Por outro lado, Vianna falou sobre os benefícios do P2P lending, destacando as baixas taxas de juros e o acesso de mais pessoas a opções de investimento. Ele mencionou a necessidade de que as empresas fintech e os bancos trabalhem em conjunto, gerando negócios que beneficiem ambas as partes, complementando pontos fortes e conhecimentos.
O pontapé inicial sobre os cashless payments, ou pagamentos sem dinheiro, foi dado por Alfredo Bruce, que fez uma revisão da evolução desses sistemas e informou que os meios mais usados são os cartões de crédito, débito e pré-pagos. O especialista refletiu sobre a lei de inclusão financeira e afirmou que “foi um marco no Uruguai por garantir um âmbito regulamentar adequado, oferecer incentivos fiscais e mostrar resultados rápidos”.
Ressaltou que a cultura é uma barreira que deve ser vencida para que a população tenha acesso ao sistema bancário e à digitalização. “Vemos que as pessoas têm um instrumento de dinheiro eletrônico por meio do qual recebem sua renda, mas o usam para sacar todo o dinheiro e isso é um grande problema porque os custos são muito altos”, afirmou. Também lembrou os desafios que o país terá para que os organismos de intermediação financeira operem em conjunto com as entidades emissoras de dinheiro eletrônico. “Hoje, se usa para as redes de máquinas de cartão POS, mas o sistema precisa se estender a todos os agentes do mercado e também são necessários progressos em matéria de regulamentação”, concluiu.
Nessa mesma linha, Verdazza ressaltou a importância de associar os cashless payments ao conceito do bitcoin, a criptomoeda mais usada no mundo, conhecida por ser eficiente, segura e de câmbio fácil devido à sua tecnologia subjacente, a blockchain. “Representa uma mudança de paradigma na custódia de valores, em que o dinheiro é do cliente e não de quem o guarda”, enfatizou.
Varela, por sua vez, propôs a reflexão sobre a progressiva extinção das redes de pagamento físicas. Admitiu que o Uruguai deu passos muito importantes com a inclusão financeira, mas avisou que ainda resta um longo caminho a percorrer.
“Estamos gerando uma brecha digital injusta na bancarização porque as economias eletrônicas oferecem muitos benefícios aos que não têm acesso, os que ficam fora do sistema”, e propôs regulamentar a parte da economia comercial que ainda não está branqueada. “Esses estabelecimentos comerciais que não passam pelo processo de faturamento, liquidação e pagamento de impostos geram um custo enorme ao país”, afirmou.
O evento foi finalizado com a intervenção feita pelo intendente de regulamentação financeira da superintendência de serviços financeiros do BCU, José Licandro, que destacou o trabalho que realizado em termos de regulamentação e inclusão, em busca de um sistema financeiro em cadência com as mudanças tecnológicas, mais eficiente e inclusivo.