CAF lança hoje relatório que analisa desafios da vida urbana na América Latina
Em São Paulo, um em cada paulistano está descontente com o transporte público, enquanto que em Fortaleza esse número é de um em cada doze habitantes. O déficit qualitativo de moradias no País é de 21%, ante 33% na média da América Latina.
A edição 2017 do Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED 2017) do CAF –Banco de Desenvolvimento da América Latina, indica que tanto São Paulo quanto o Rio de Janeiro experimentaram nos últimos anos um processo de sub-urbanização, caracterizado pela diminuição das densidades centrais e o crescimento das densidades nas periferias urbanas. Segundo o documento, lançado hoje em Recife, isso se constitui num dos principais desafios para o desenvolvimento inclusivo das cidades brasileiras, sobretudo aquelas de grande porte, uma vez que implica em novos obstáculos a serem transpostos em termos de mobilidade urbana, uso do solo e investimentos na qualidade da moradia.
O relatório “Crescimento urbano e acesso a oportunidades: um desafio para a América Latina” apresenta uma extensa análise transversal sobre a situação das principais cidades da região e conclui, entre outros pontos, que a “tripla informalidade” – de moradia, transporte e emprego – se apresenta como um dos principais fatores que explicam os baixos índices de produtividade e competitividade nos países latino- americanos.
Para Victor Rico Frontaura, diretor representante do CAF no Brasil, o crescimento inclusivo e a melhoria da qualidade de vida nas cidades são os principais desafios hoje na região, não apenas pela quantidade de pessoas vivendo em áreas urbanas, mas também porque trata-se de um fator-chave para a promoção da competitividade e do desenvolvimento econômico dos países latino-americanos. “Mobilidade urbana mais eficiente, melhor planejamento e uso do solo e governança pública institucionalizada resulta em melhores ambientes para negócios e oportunidades econômicas”, avalia. “O RED 2017 nos apresenta elementos conceituais para entender e melhorar o desenvolvimento urbano inclusivo na América Latina”, resume.
O economista do CAF, Guillermo Alves, ressalta que "o relatório coloca o foco no conceito de acessibilidade como desafio principal das políticas publicas nas cidades. Acessibilidade é a capacidade das pessoas e as empresas de ter acesso às oportunidades oferecidas pelas cidades. O grande desafio da acessibilidade é possibilitar que as cidades possam aproveitar melhor os ganhos derivados das economias de aglomeração e, ao mesmo tempo, controlar os custos do congestionamento. Assim, o documento faz um diagnóstico e várias recomendações de políticas nas áreas de mobilidade, moradia, planejamento e uso do solo e governança metropolitana”.
Transporte e moradia no Brasil se destacam no relatório
Em matéria de transporte, São Paulo apresenta registros similares de tempo médio de viagem entre casa e trabalho que outras grandes cidades da região (quando considerados todos os meios de transporte, somente ida) – 42 minutos. Esse tempo médio sobe para 55 minutos nos casos dos transportes públicos. No entanto, a cidade apresenta altos níveis de descontentamento entre seus habitantes de seus usuários, sendo que 1 em cada 4 habitantes se declara insatisfeito com o sistema de transporte público, atrás de Bogotá, Cidade do Panamá, Lima e Montevidéu. Fortaleza é a cidade da região com a menor percentagem de descontentamento, da ordem de 8%. A pesquisa mostra ainda que 39% dos latino-americanos usam o transporte público para irem ao trabalho, 22% se deslocam em meios de transporte privado e 26% caminham para irem trabalhar.
Segundo dados do Observatório de Mobilidade do CAF, várias cidades brasileiras se encontram entre as cidades da América Latina com menos uso de transporte público, entre elas Belo Horizonte e Recife, que apresentam as maiores proporções de viagens a pé (40%).
Quando se trata de moradia, os dados avaliativos brasileiros, em relação à média da região, são mais positivos. A “taxa de déficit qualitativo” no País, que resume as características físicas das moradias, os acessos a serviços públicos básicos e o regime de posse das mesmas, é de 21%, ante 33% na região. O item que mais influencia no déficit de qualidade das moradias no Brasil é a falta de acesso ao saneamento.
Governança
A governança de áreas metropolitanas se constitui em outro grande desafio para o desenvolvimento inclusivo das grandes áreas urbanas na América Latina. No caso do Brasil, diferentemente de outros países da região, são os estados que têm a responsabilidade de promover a governança metropolitana. São Paulo e Rio de Janeiro são analisados no estudo, sendo que SP (com 172 municípios integrados) se destaca com um funcionamento positivo da gestão de problemas metropolitanos, a cidade do Rio de Janeiro não dispõe de instrumentos nesse sentido, apesar de contar com uma população de 11 milhões de pessoas e 89 municípios em sua área metropolitana.
Participaram do evento de anúncio do relatório o prefeito de Recife, Geraldo Júlio, o executivo-senior do CAF no Brasil, José Rafael Neto, além de diversas autoridades e gestores públicos brasileiros presentes no evento da Frente Anual dos Prefeitos.