A América Latina limpa a pegada climática de suas cidades
Catorze cidades latino-americanas participam da iniciativa “Pegada de Cidades”, que apoia os governos locais na identificação de ações, concepção e implementação de planos de desenvolvimento baseados na mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Um rápido passeio por Bogotá, Buenos Aires, Cidade do México, Lima, Quito ou São Paulo nos dá um panorama geral dos principais problemas que afetam praticamente todas as cidades latino-americanas. Entre os mais perceptíveis, podemos citar os congestionamentos, desigualdades sociais acentuadas, crescimento urbano desordenado, oferta insatisfatória de serviços públicos, poluição acústica e ambiental ou a presença de indústrias pouco amigáveis em relação ao meio ambiente.
Esse rápido diagnóstico é reflexo de um dos principais obstáculos para o desenvolvimento da região: a maioria dos países baseia seu crescimento em modelos econômicos pouco sustentáveis e isso gera um forte impacto no aquecimento global. De fato, em nível internacional, as cidades exercem uma pressão enorme sobre os recursos naturais e geram 70% das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), além de consumirem 66% da energia produzida.
“Para reduzir o impacto negativo da atividade das cidades, será imprescindível implementar projetos de redução de emissões de GEE e adaptação às mudanças climáticas para diminuir sua contribuição ao aquecimento global, mas, sobretudo, com a meta de tornarem-se cidades mais eficientes e amigáveis ao clima”, explica Ligia Castro, diretora de Ambiente e Mudança Climática do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina.
Para isso, o CAF promoveu iniciativas que visam medir a pegada ambiental das cidades, apoiando os governos locais na elaboração de estratégias de desenvolvimento sustentável e modelos de crescimento que respeitem o meio ambiente. Para conseguir isso, são calculadas as pegadas de carbono e hídrica das cidades, e identificados e priorizados, por meio dessas iniciativas, projetos de mitigação e adaptação à mudança climática, que impulsionam e fomentam uma transição para economias de menos emissões, resilientes e sustentáveis.
Com a implementação dessas medidas, as cidades melhoram a qualidade de vida de seus cidadãos, incrementam o potencial de desenvolvimento econômico e social, diminuem a pobreza, aumentam a resiliência e reduzem a emissão de GEE e outros elementos poluentes, melhorando a qualidade ambiental da cidade.
Até a data, 14 cidades da América Latina fizeram progressos no cálculo de suas pegadas de carbono e hídrica: La Paz, Lima e Quito, Guaiaquil, Santa Cruz de la Sierra, Fortaleza, Cali, Loja, Tarija, Santa Cruz de Galápagos, Recife e Cuenca. Os esforços em El Alto e Cochabamba também seguem avançando.
Essas cidades tiveram como resultados a inclusão das pegadas como indicadores de gestão, a criação de compromissos para reduzir suas pegadas, o uso transversal da variável de mudança climática no planejamento estratégico de setores e a consolidação de alianças entre atores-chave da região.
Como parte desse esforço, foi desenvolvido o “Ciclo de Gestão de Pegadas” que, em primeira instância, traçou um diagnóstico da situação atual dos governos municipais e das cidades por meio da avaliação das pegadas de carbono e hídrica. A partir daí, são feitas projeções no curto, médio e longo prazos em cenários “sem reduções” e “com reduções”.
Posteriormente, é preparado um portfólio de projetos focado na redução de ambas as pegadas municipais, que inclui uma análise entre o custo-benefício das medidas propostas e permite definir uma série de metas de redução, promovendo a transição para uma etapa de implementação que deverá ser executada pelas entidades de cada cidade.
Também são criadas capacidades locais, com tutoriais, manuais e o desenho e a transferência de ferramentas de cálculo das pegadas, adequadas às características das cidades, a fim de transferir as capacidades necessárias aos funcionários do governo municipal e garantir a sustentabilidade da iniciativa.
Esse ciclo volta à etapa de diagnóstico para a avaliação periódica da eficácia da redução de pegadas dos projetos implementados e proposição de novos cenários de redução, bem como novas metas.
Projetos-piloto
La Paz, Quito e Lima foram as cidades que receberam projetos-piloto de redução de pegadas:
- La Paz: sistema integrado de geração de energia e fertilizantes, e reutilização de águas residuais no zoológico municipal “Vesty Pakos”, a partir da instalação de biodigestores. Sistema de gestão de resíduos e agricultura urbana no bairro de Verdad Kenanipata (barraca solar + composteira)
- Quito: fortalecimento do Comitê de Ecoeficiência. Sistema autocompartilhado em unidades municipais selecionadas.
- Lima: apoio ao Programa Escolas Verdes, com a instalação de iluminação eficiente e o desenvolvimento de calculadoras de pegadas. Concepção e implementação de um mecanismo de medição e compensação de pegada hídrica para Quito e cálculo da pegada hídrica de TESALIA.
Essas iniciativas foram desenvolvidas em parceria com: CAF, CDKN – Alianza clima y desarrollo-, Futuro Latinoamericano e SASA Servicios Ambientales, Carbon Feel e Water Foodprint Network. A Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) também contribuiu.
Os resultados das pegadas permitem implementar novas ferramentas e instrumentos de planejamento e gestão ambiental, que são muito úteis para os governos municipais, setor privado e cidadãos em geral.
A adaptação a essas mudanças exige mecanismos de colaboração e coordenação entre todos os setores, aplicando iniciativas e programas que desenvolvam resiliência em diferentes campos como, por exemplo, na gestão integral da água e dos resíduos sólidos.