Reduzir o tempo do transporte nas cidades, desafio para o Panamá e a América Latina
De acordo com a percepção dos latino-americanos, seu trajeto até o trabalho dura, em média, 14 minutos mais do que duraria se não houvesse trânsito. Conforme dados do Relatório de Economia e Desenvolvimento apresentado pelo CAF, a Cidade do Panamá é a metrópole cujos habitantes reportam o maior tempo em seus trajetos devido ao trânsito.
Para os habitantes das cidades, o tempo e a distância de cada trajeto para o trabalho ocupam um papel de destaque entre seus deslocamentos urbanos, razão pela qual a redução, da maneira mais eficiente possível, do esforço aplicado por uma pessoa para chegar ao trabalho é um dos principais desafios enfrentados pela região. Em toda a América Latina, a média é de 40 minutos, enquanto apenas na Cidade do Panamá as pessoas gastam, em média, 52 minutos para chegar aos seus locais de trabalho (incluindo todos os meios de transporte: 67 minutos por transportes públicos e 56 em carro particular), que é o indicador mais alto na região.
Estes são alguns dos resultados do Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED) de 2017 do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina-, com o título “Crescimento urbano e acesso às oportunidades: um desafio para a América Latina”, apresentado hoje na sala Grand Colonia do Hotel Bristol na Cidade do Panamá, que aborda questões como habitação, uso da terra, transporte e governabilidade.
“As cidades são o principal motor de desenvolvimento dos países, pois nelas se concentram os processos produtivos de maior complexidade e a maior quantidade de oportunidades. Por este motivo, a nova entrega do Relatório de Economia e Desenvolvimento do CAF fornece elementos conceituais para melhorar a acessibilidade das cidades da região por meio de intervenções de políticas públicas, levando em conta que cidades mais acessíveis são também mais produtivas e proporcionam mais bem-estar a seus habitantes”, garantiu Susana Pinilla, diretora representante do CAF no Panamá.
Durante a apresentação do relatório, Juan Fernando Vargas, principal economista do Departamento de Pesquisas Socioeconômicas do CAF, explicou que “a mobilidade urbana é um elemento fundamental para atingir o objetivo de acessibilidade. De fato, a mobilidade determina tanto o tamanho das economias de aglomeração como a magnitude dos custos de congestionamento. Por um lado, as dificuldades de mobilidade impedem que as pessoas acessem os melhores empregos disponíveis e que as empresas contratem a mão de obra mais preparada, diminuindo, assim, a produtividade de toda a cidade. Pelo outro, a mobilidade ruim é uma das principais causas dos custos de congestionamento, incluindo o tráfego de veículos, a contaminação do meio ambiente, os acidentes rodoviários e outros fenômenos que afetam negativamente o bem-estar da população”.
O especialista destacou também a relevância dos transportes público nas cidades latino-americanas e a importância de manter os cidadãos satisfeitos com esse serviço. “39% dos latino-americanos se deslocam de sua casa ao trabalho em meios de transporte públicos, 22% em transporte privado e 26% a pé. Esses percentuais se comparam aos valores europeus de 23%, 54% e 11%, respectivamente. Nos Estados Unidos, 90% das pessoas optam pelo carro particular para se deslocarem de casa ao trabalho", explicou.
De acordo com dados de uma pesquisa realizada pelo CAF, depois de Bogotá, a Cidade do Panamá é a metrópole com maior insatisfação com transporte público (34% dos panamenhos estão insatisfeitos). Em parte, tal fato pode ser atribuído à grande extensão da mancha urbana da cidade, que gera problemas de cobertura do sistema de transporte público e torna os trajetos mais longos. De fato, a distância média dos trajetos em transportes públicos é de quase 17 km, com um tempo médio de até 85 minutos. Estes números podem ser considerados altos, levando-se em conta que, em cidades com uma população muito maior, como Bogotá e Santiago do Chile (com mais de 9 e 7 milhões de habitantes em suas áreas metropolitanas, respectivamente), essas distâncias ficam em torno de 11 km e os tempos dos trajetos por transporte público são de aproximadamente 50 minutos.
A Pesquisa CAF revela também os principais aspectos do sistema público que necessitam de melhoria na área metropolitana das cidades latino-americanas, entre elas a Cidade do Panamá, que são: reduzir o tempo de ônibus (18%), melhorar a frequência do serviço (15%), melhorar a segurança no veículo (13%), otimizar o conforto no veículo (11%), reduzir a tarifa (9%), melhorar a segurança viária (9%), entre outros aspectos.
Créditos
Um dos problemas do mercado imobiliário nas cidades latino-americanas é sua baixa acessibilidade. A solução mais direta para esse problema, do lado da demanda, é a expansão do acesso ao financiamento imobiliário. A dívida hipotecária média na América Latina é de 8% do Produto Interno Bruto (PIB). Os países da região com maior acesso ao financiamento imobiliário são o Chile (20%) e o Panamá (18%). Estes valores, altos para a região, ainda estão longe das médias europeias (37%) e dos Estados Unidos - Canadá (70%).
Uma residência de qualidade e próxima a locais onde há disponibilização de trabalho e recreação oferece melhores níveis de saúde, educação e satisfação dos indivíduos, o que se converte em níveis mais altos de produtividade e bem-estar. O objetivo deve ser que toda pessoa tenha acesso a uma moradia que lhe permita aproveitar as oportunidades oferecidas pela cidade, mas não necessariamente por meio da universalização da propriedade. Os mercados de aluguel são uma alternativa.
Estes foram alguns dos principais temas abordados na apresentação do RED na Cidade do Panamá, evento que contou com a participação de: Roberto Roy, gerente geral e presidente do conselho de administração da Metro do Panamá, S.A .; Lucía Meza, diretora de Projetos da Região Norte do CAF; Manuel Trute, diretor de planejamento urbano, Prefeitura da Cidade do Panamá; e Harvey Scorcia, diretor executivo do Departamento de Análise e Programação Setorial do CAF; entre outros.