“Existe uma relação estreita entre pobreza, injustiça social e desconforto psicológico”
O Observatório da Dívida Social Argentina da UCA e o CAF organizaram um fórum sobre pobreza, desigualdade e inovação social, durante o qual especialistas da Argentina e da região falaram sobre a abordagem multidimensional na medição da pobreza.
O Observatório da Dívida Social Argentina da UCA e o CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- realizaram, na última quinta-feira, 2 de agosto, o fórum “Pobreza e desigualdade ‘escondida’: inovação social e novas ferramentas de medição”, no auditório Monseñor Derisi do campus da UCA no bairro de Puerto Madero, em Buenos Aires.
O diretor do Observatório, Agustín Salvia, falou durante a abertura do evento. “A pobreza não é definida somente pela renda, é muito mais que isso. Por isso, é necessária uma abordagem interdisciplinar e multidimensional da pobreza, entendida como a injustiça social que impede o desenvolvimento das habilidades humanas e a integração social”.
Salvia salientou que uma sociedade é “pobre” quando seus integrantes não podem desenvolver suas habilidades e ressaltou que, além das condições materiais, é necessário contemplar o bem-estar subjetivo e psicológico das pessoas. “Existe uma relação estreita entre pobreza, injustiça social e desconforto psicológico. Isso também é crônico, se reproduz entre uma geração e outra e na própria vida da pessoa”.
Além disso, o diretor-representante do CAF na Argentina, Andrés Rugeles, alertou sobre o avanço da pobreza na América Latina e afirmou que há “186 milhões de pobres” na região, sendo principalmente afetados por essa condição crianças, adolescentes, mulheres, jovens e o meio rural. Nesse sentido, reivindicou o apoio do CAF ao país por meio de investimentos para atender os segmentos mais vulneráveis e atenuar as diferenças sociais, com projetos em setores como os de água, saneamento e educação.
“A fim de construir a América Latina mais justa e equitativa que tanto sonhamos, a ação do CAF está concentrada em três eixos: atenuar as diferenças sociais existentes na Argentina e suas expressões geográficas, apoiar a reintegração global competitiva do país e contribuir com o investimento público em segmentos em que o setor privado ainda não participa”, acrescentou Rugeles.
Em sua palestra, a diretora de Inovação Social do CAF, Ana Mercedes Botero, salientou a necessidade de ampliar a compreensão da pobreza, incorporando dimensões relacionadas a direitos e capacidades, bem como dados subjetivos de natureza emocional e psicológica. Além disso, ressaltou a importância de discutir a pobreza com os pobres e abrir canais de participação das pessoas em situação de vulnerabilidade nas decisões de políticas públicas.
A Diretoria de Inovação Social do CAF promove o debate sobre essas novas ferramentas, especialmente o estudo sobre as dimensões inexistentes na medição da pobreza e o Semáforo de Eliminação da Pobreza. Nesse sentido, a diretora das instituições Foco Sustentable e Centro Lyra, Mireya Vargas, apresentou uma pesquisa da Universidade de Oxford sobre dimensões como bem-estar subjetivo, isolamento social ou vergonha e humilhação.
O diretor da Fundación Paraguaya, Martín Burt, apresentou o Semáforo de Eliminação da Pobreza, que permite que as famílias elaborem seu mapa de pobreza e desenvolvam e implementem um plano para sair dela. “A abordagem tradicional para alívio ou redução da pobreza é insuficiente”, considerou, lembrando que “o desenvolvimento econômico da América Latina não correspondeu com o desenvolvimento social da região”.
Por último, foi formado um grupo de discussão sobre a pobreza na Argentina, do qual participaram a diretora nacional do Sistema de Informação, Avaliação e Monitoramento de Programas Sociais, Soledad Cubas; o assessor de Políticas Econômicas do Ministério da Fazenda, Guillermo Cruces; o presidente da Comissão de Justiça e Paz da Conferência Episcopal Argentina, Emilio Inzaurraga; o especialista em Monitoramento e Inclusão Social da Unicef, Sebastián Waisgrais; e a pesquisadora do Observatório, Ianina Tuñón. O evento foi moderado por María Lucila Berniell, economista do CAF.