Diálogo entre governo, academia, empresariado e sindicatos sobre os desafios de produtividade enfrentados pelo Uruguai
O encontro aconteceu durante a apresentação do Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED) 2018, elaborado pelo CAF -banco de desenvolvimento da América Latina.
O CAF -banco de desenvolvimento da América Latina, apresentou o Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED) 2018: “Instituições para a produtividade, em prol de um melhor ambiente empresarial”, que foca os desafios em termos de produtividade na América Latina. Os resultados serviram como base para a realização de um debate, que contou com a participação de Álvaro García, diretor do Escritório de Planejamento e Orçamento; Sebastián Pérez, assessor econômico da Câmara de Indústrias do Uruguai; Alejandra Picco, assessora econômica do Instituto Cuesta Duarte, do PIT-CNT; e Néstor Gandelman, doutor em Economia e professor da Universidade ORT.
“O pacto que devemos fazer é pela produtividade. Para isso, devemos dialogar para chegar a consensos que permitam identificar as políticas que devem ser implementadas para promover o crescimento dos países no longo prazo”, afirmou o representante do CAF no Uruguai, Germán Ríos. Em seguida, o presidente do CAF, Luis Carranza, afirmou que, na América Latina, foram feitos pactos nos últimos anos, alguns implícitos, relativos à melhora e à estabilidade macroeconômica, e outros mais visíveis, como os sociais, que permitiram reduzir a pobreza.
“O atraso produtivo regional ocorre em todos os setores e se deve a uma má alocação de recursos. Por isso, devemos nos concentrar nas instituições econômicas que afetam todo o ambiente de negócios”, declarou, baseando-se no relatório, o economista-chefe da Diretoria da Pesquisas Socioeconômicas do CAF, Guillermo Alves.
Nessa mesma linha, afirmou que a pesquisa é conclusiva no que diz respeito à importância de se elaborar uma agenda de reformas institucionais que potencialize o ambiente de negócios, com ações que fomentem a concorrência, como a redução das barreiras de entrada aos mercados e o fortalecimento das instituições para a defesa da concorrência e do emprego, cuidando para que as políticas de impostos e benefícios associados não estimulem a informalidade, e sim facilitem o acesso a insumos e à cooperação, promovendo o comércio, a integração e o financiamento, criando programas de financiamento produtivo com objetivos claros e que sejam rigorosamente avaliados.
“No Uruguai, estamos atrasados nos processos de medição da produtividade”, alertou Gandelman, que também afirmou que é um recurso que deve ser utilizado para a elaboração de políticas públicas e para que as empresas possam conhecer sua situação em relação à concorrência. Por outro lado, afirmou que é contra a realização de medições de produtividade por setor nos Conselhos de Salários, já que não refletem a heterogeneidade das empresas. Conforme explicou, essa iniciativa foi introduzida na segunda administração da coligação Frente Amplio, após o impacto das medidas de recuperação salarial de sua primeira gestão, que fizeram com que algumas empresas tivessem níveis de remuneração que não eram condizentes com a evolução da produtividade.
“O sistema de negociação coletiva não está ajudando a melhorar a produtividade. Temos que voltar a ter um olhar setorial para definir salários”, acrescentou Alejandra Picco em seu discurso, enfatizando a importância da geração de indicadores mais sofisticados e da padronização das metodologias de medição, propostas que considera enfraquecidas pela falta de informação disponível por parte das empresas.
Por outro lado, Pérez destacou as contribuições da CIU em matéria de medições e elaboração de relatórios. “O problema não são as medições, mas os resultados”, disse. Também indicou que, embora na Câmara tenham consciência dos problemas de produtividade de algumas empresas privadas, identificam uma maior necessidade de promover mudanças nas empresas públicas, o que pode resultar em uma melhora das condições de concorrência.
Por sua vez, García destacou a relevância da abordagem da temática do relatório do CAF. “É fundamental incluir na agenda a questão da produtividade”, afirmou. García falou do crescimento registrado no país após a crise de 2002 e dos desafios que tem pela frente para melhorar a produtividade no longo prazo, tais como reduzir a lacuna de gênero em matéria de emprego e seguir trabalhando na educação. Também destacou projetos públicos, como o Transforma Uruguay, que visa a promover uma agenda de questões relativas à competitividade e à capacidade de transformação nacional por meio da sinergia com trabalhadores, empresários, projetos de economia social, pesquisadores e instituições educacionais.