Empoderar os cidadãos com liberdade e fortalecer as instituições multilaterais, chaves para superar a pandemia: Presidente do Uruguai
A recuperação econômica pós-Covid-19 e o futuro do contrato social nas Américas foram o centro da discussão da primeira sessão da 24ª Conferência do CAF, na qual o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, juntamente com o Prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, e especialistas internacionais concordaram com a importância de priorizar investimentos em infraestrutura, saúde e educação para mitigar o impacto na desigualdade e na pobreza, além de reativar o crescimento econômico na América Latina.
A pandemia da COVID-19 deixou claro que a globalização é uma realidade que traz incertezas sobre o futuro e requer maior responsabilidade de todos pelas consequências que pode gerar. Esta foi a mensagem inicial do presidente da República Oriental do Uruguai, Luis Lacalle Pou, durante seu discurso na 24ª Conferência Anual do CAF, na qual compartilhou a estratégia de seu governo para mitigar os efeitos da emergência sanitária com um dos resultados mais satisfatórios na região.
"A chave foi empoderar os cidadãos com liberdade. O povo uruguaio respondeu exemplarmente. Se hoje os registros da pandemia no nosso país são aceitáveis em comparação com o resto do mundo, isso não se deve ao governo; nós só interpretamos a vocação nacional de usar responsavelmente sua liberdade. Essa é uma oportunidade e um legado que deixamos para o futuro. Governos que não têm medo de empoderar o cidadão, informar e ser transparentes. Aquilo que gera confiança, assim como a liberdade, é outra ferramenta que nos permite trabalhar diante da incerteza do futuro. Se promovemos discussões e ações coordenadas também geramos confiança e ação, e daí surge um círculo virtuoso", explicou Lacalle Pou.
O equilíbrio entre proteger os cidadãos com a dinâmica econômica para manter os ganhos sociais alcançados nas últimas décadas e apoiar os mais vulneráveis com assistência social faz parte da estratégia implementada no Uruguai graças ao acesso rápido e oportuno ao financiamento por agências multilaterais. Nesse sentido, o presidente Lacalle Pou pediu o fortalecimento delas em benefício de toda a região.
"Temos aí um ponto nessa integração global e regional que é fortalecer as agências multilaterais de crédito não apenas do ponto de vista do capital, da disponibilidade de recursos, mas também para englobar mais soluções ou ampliar sua caixa de ferramentas para tais situações. Está claro que todos iremos conviver com a incerteza", complementou o presidente do Uruguai.
A 24ª Conferência do CAF começou com as palavras de Michael Shifter e Tomas Shannon, presidente e co-presidente do Diálogo Interamericano, juntamente com Luis Carranza Ugarte, presidente-executivo do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina, que ressaltou a importância de promover a integração intrarregional porque representa apenas 15%, versus 63% da Europa ou 42% da Ásia.
"Precisamos enfrentar definitivamente o desafio de fechar a lacuna da infraestrutura digital e da integração regional e, para isso, é necessário esforço fiscal e cooperação internacional para obter fontes de financiamento de longo prazo com taxas de concessão que permitam avançar de forma sustentável no desafio de fechar tal lacuna. Assim será abordado o problema de integração da nossa região, não como um processo político, mas como uma ferramenta útil para melhorar o bem-estar de nossos cidadãos", disse Carranza.
A recuperação econômica pós-Covid-19 e o futuro do contrato social nas Américas foi o tema central do primeiro painel moderado por Luis Felipe López Calva, diretor-regional para a América Latina e o Caribe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que incluiu Rebeca Grynspan, secretária-geral Ibero-Americana (SEGIB); Joseph E. Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Columbia; Carmen Reinhart, vice-presidente e economista-chefe do Grupo do Banco Mundial; Paula Santilli, diretora-executiva da PepsiCo América Latina; e Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
"Ao contrário da crise de 2008, as taxas de juros estão próximas de zero, portanto, há muitas poupanças e investimentos de longo prazo disponíveis que ajudariam nessa recuperação da maneira sustentável que todos queremos,como a transição verde e a infraestrutura na América Latina, entre outros. Mas o que obstrui esses fundos de longo prazo ou o acesso a eles são os mercados financeiros de curto prazo, e bancos de desenvolvimento como o CAF têm desempenhado um papel importante em dirigi-los para o longo prazo. Este é o momento de impulsionar a recapitalização das instituições multilaterais porque, como parte da recuperação, precisamos de uma visão de longo prazo que inclua a transição para economias mais verdes e financiamento mais abrangente, a fim de trazer uma recuperação mais forte da pandemia", disse Joseph E. Stiglitz.
A <24ª Conferência Anual do CAF, organizada pelo Diálogo Interamericano, pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelo CAF, continuará esta semana com os seguintes painéis:
Quinta-feira, 10: “Sucessos e fracassos: nossos sistemas de saúde sob pressão; uma conversa sobre o coronavírus, as mudanças climáticas e o meio ambiente. Quais os desafios para a América Latina e o Caribe?; oportunidades e riscos da transformação digital na região”.
Sexta-feira, 11: “Política em tempos de pandemia: o impacto sobre a democracia e o estado de direito na América Latina; e “As eleições presidenciais dos Estados Unidos: implicações para a América Latina e o Caribe”.
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