Saúde, digitalização e mudanças climáticas entre os setores mais afetados pela Covid-19
O impacto da pandemia nos setores de saúde, mudanças climáticas e digitalização ameaça ampliar as brechas entre as economias mais avançadas e as regiões em desenvolvimento. Para evitar isso, é necessário aumentar o investimento público e a cooperação internacional, de acordo com um grupo de especialistas internacionais reunidos virtualmente no segundo dia da Conferência Anual do CAF.
A Covid-19 pôs à prova todos os setores sociais e econômicos do planeta ao mesmo tempo, mas a resposta 0variou significativamente segundo o país, deixando em evidência as brechas que existem entre as economias mais avançadas e as regiões em desenvolvimento.
Essa é uma das principais conclusões alcançadas por um grupo de especialistas internacionais reunidos no segundo dia da Conferência Anual do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- que abordou o impacto da Covid-19 nos sistemas de saúde, na luta contra as mudanças climáticas e na digitalização de países, grupos vulneráveis, empresas e governos.
O impacto da pandemia nos sistemas de saúde revelou a importância de contar com sistemas de saúde pública eficientes, pessoal médico preparado e acesso à infraestrutura hospitalar. Nesse sentido, a crise tripla (econômica, social e sanitária) expôs as profundas desigualdades que a América Latina vive e que atingem mais as populações vulneráveis.
"Nenhum país pode resolver isso sozinho; é necessário um trabalho conjunto para combater essa crise tripla. Somente por meio de uma ação coletiva e concertada poderemos enfrentar a Covid-19 e deter o contágio da infecção", disse Carissa F. Etienne, diretora-regional da OMS para as Américas.
Deisy Ventura, professora de Ética Global da Saúde na Universidade de São Paulo, disse que "a saúde pública não deve ser tratada novamente como algo isolado após a pandemia, porque a Covid-19 nos fez ver que a saúde deve ser uma prioridade orçamentária e política".
A mudança climática também é um dos desafios a resolver internacionalmente. Com a Covid-19, sua presença na mídia diminuiu, mas a temperatura global não.
A mudança climática é "uma crise que pode ser mais profunda e prolongada que a causada pelo coronavírus se não for enfrentada a tempo e com os recursos necessários", disse Yolanda Kakabadse, presidente do Conselho Consultivo do Futuro da América Latina. Brigitte Baptiste, reitora da Universidade Ean de Bogotá, expressou-se nesta mesma linha. "Os sistemas vivos estão se deteriorando e isso é uma ameaça para o ecossistema", disse.
A pandemia também trouxe consigo o problema da conectividade, que mobilizou governos e empresas para inovar e enfrentar os novos desafios. Para os especialistas, a boa notícia é que a pandemia acelerou o processo de digitalização e permitirá o acesso à educação e a serviços de saúde a mais pessoas. No entanto, para satisfazer essas expectativas, os países precisam ter uma infraestrutura básica de conectividade e um quadro regulatório para que as empresas possam oferecer serviços de interesse público, sem esquecer questões-chave como segurança e privacidade.
"Embora a região enfrente uma crise socioeconômica sem precedentes, há um grande contraste em termos de tecnologia e das possibilidades que surgem. Os governos e as empresas estão inovando e esse é o único caminho para ter uma América Latina mais produtiva", disse Angel Melguizo, vice-presidente de Assuntos Externos e Regulatórios da AT&T para a América Latina.
Silvia Moschini, co-fundadora e presidente da TransparentBusiness Inc, assegurou que "ficou demonstrado que o teletrabalho, a telemedicina e a educação remota eram possíveis. Essa mudança melhorará as economias e a continuidade do trabalho."
A Conferência Anual do CAF continuará amanhã, 11 de setembro, com discussões sobre o impacto da Covid-19 sobre a democracia e o Estado de Direito na América Latina, e sobre as implicações da eleição presidencial dos EUA na América Latina e no Caribe.